segunda-feira, 16 de julho de 2007

Rápidas considerações sobre as eleições de Lisboa

Apurados os resultados das eleições intercalares para a câmara de Lisboa, é possível retirar destes algumas conclusões:

- Nem as férias, nem o calor, nem outra desculpa justificam a elevada abstenção, na ordem dos 60%. Os portugueses cansam-se do modo de fazer política em Portugal, ou cada vez menos há uma educação para a democracia e para o exercício de cidadania consagrado no direito ao voto?

- Fraco resultado para o Partido Socialista. Apesar de se poder de gabar de pela primeira vez na história o PS ter vencido a câmara da capital sem coligação, estar abaixo dos 30 % é um resultado pouco honroso para o PS. António Costa, adivinha-se, não terá grande margem de manobra para medidas de fundo nos próximos dois anos. O que poderá fazer é mostrar-se empenhado para poder melhorar a performance eleitoral daqui a dois anos. Afinal, a Câmara da capital é um óptimo trampolim para vôos mais altos. Que o diga Jorge Sampaio, que saltou da Câmara para a presidência da república.

- Desgraça na direita portuguesa. PSD atinge um resultado muito negativo para o historial do partido. Fernando Negrão apareceu na campanha demasiado sozinho, e sem o discurso adequado para conquistar um eleitorado que há dois anos deu a vitória a Carmona, candidato do PSD. Por sua vez, o CDS-PP afunda-se sem conseguir eleger um único vereador. Paulo Portas fez a pior jogada da sua (até conseguida, reconheça-se) carreira política. A sua ansiedade em voltar à ribalta acaba por o colar à figura de Telmo Correia. E as tristes cenas a que se assistem pelos media no seio do partido popular (recorde-se a "estória" das agressões a Maria José Nogueira Pinto) acabam por fragilizar um partido cada vez mais sem ideias.

- Honra aos independentes. A moda pegou. Ser independente dos partidos acaba por compensar. Parte da população, cada vez mais cansada de demagogias partidárias, vira-se para aqueles que parecem lutar contra estes. As candidaturas de Carmona Rodrigues (em 2º lugar) e de Helena Roseta (4º lugar) acabam por ser as grandes vencedoras da noite eleitoral. Mas cuidado. Desprovidos da imagem de um partido os próximos dois anos podem ser difíceis para reforçar uma candidatura em 2009.

- Mantêm-se os partidos de esquerda na câmara. A CDU e o BE mantêm o seu eleitorado. Porém, nota-se uma ligeira quebra do Bloco junto do eleitorado. Talvez a eleição de Sá Fernandes seja mais à custa da sua imagem de "político corajoso" do que candidato bloquista. O tempo dirá se o bloco conseguirá manter os bons resultados nas próximas eleições. Na minha opinião, os 8 deputados que elegeu nas últimas legislativas foi um milagre que dificilmente se repetirá... ou talvez não.

- Cuidado com a extrema-direita. 1501 votos no PNR são bastantes, para mim, que detesto a extrema-direita, para deixar no ar uma certa preocupação com o ressurgimento de movimentos xenófobos. Após a polémica com uma lista de extrema-direita para as eleições para uma AE numa faculdade de Lisboa, toda a atenção é pouca. Cuidado com a interpretação da Constituição que proíbe associações de carácter "fascista". É que este termo caíu em desuso, e pode ser facilmente contornável. E a interpretação desta norma deve ser o mais abrangente possível. Apesar de serem poucos, o número de votos aumenta significativamente. Junto dos jovens. Junto dos desempregados. Atenção, que o futuro pode trazer dissabores.

"Pergunto eu: o que significa essa lealdade ao partido?" -> questão colocada pela White Castle no seu blog Branco Preto e Vermelho. Julgo que é a mim dirigida, após algumas saudáveis discussões que tivemos sobre o tema. Já estou a pensar na resposta. Fica para um próximo post, devido ao adiantado da hora.

3 comentários:

Anônimo disse...

Fracos resultados para o vencedor e para os vencidos. O povo desilude-se.

White Castle disse...

Espero a resposta então ;)

Devo dizer, que apesar de não estar (ainda) no meu blog, uma das conclusoes que retirei foi o crescimento do PNR, que pouco se tem dado atenção porque anda a comunicação social mais preocupada com as chefias sociais democratas e populares...

Entendo que a derrota do PSD não é tão estranha assim tendo em conta a votação do Carmona (que sou sincera me espantou de alguma forma, apesar de a esperar, tendo em conta as sondagens - e até que ponto não provocam elas o efeito pescadinha de rabo na boca!) E sou sincera, o Negrão não me apixonava... Qt a Marques Mendes, isto é mais uma desculpa para decapitar o homem, que teve coragem de tomar decisões sérias e difíceis! Quanto ao PP, acho que é um sinal que, na verdade, eles não trazem nada de novo, e de facto, os independentes retiraram-lhe votação, bem como aos partidos! Quanto a António Costa, faz parte do grupo: "quem se mete com o ps leva"... Mas, para o bem dos lisboetas, só espero que se porte bem... vou achar piada aos piscares de olhos que ele vai fazer (engraçado isso da politica... grandes inimigos e grandes amigos... ahahah .. vou gostar de ver!!)

Mas o que retiro mais destas eleições: a importancia dos Independentes! É sim algo sobre o que deveriamos todos nós reflectir!

João Fachana disse...

O crescimento dos independentes está intimamente ligado com o crescimento da insatisfação e a sensação no Zé Povinho da falta de representatividade que os partidos políticos mais "abrangentes" (PSD e PS). E esta causa além de incentivar o sentido do voto nos "independentes" ou então a abstenção, também incentiva o voto nos pequenos partidos. E quando os maiores dos pequenos partidos também desiludem o povo (CDS, PCP, BE), a mesma causa leva a que o voto vá para esses partidecos de gaveta (PNR, MRPP, PND, PD, PT, PPM, etc...). A votação no PNR acentua-se por uma questão lógica e histórica: A insatisfação de um povo e o falhanço de um determinado regime leva a uma cultura de medo, de isolamento e de autoritarismo que favorece os partidos que advogam tal... Repare-se no que aconteceu quando os Nazis subiram ao poder, quando Mussolini subiu ao poder, ambos pela mão do povo. Lenine e, depois, Estaline, na evidência do falhanço do Comunismo, impuseram a ditadura em termos quase idênticos aos das ditaduras fascistas... Em portugal, o Golpe de Estado de 1926 foi em virtude do falhanço e da falta de entendimento dos partidos republicanos, mais uma vez com o apoio (embora neste caso indirecto) do povo. A subida do PNR explica-se por isto. E a culpa está principalmente na direita, por não saber fazer oposição coerente (e sem demagogias!) a Sócrates, embora a culpa seja um pouco de todos os partidos da A.R. em geral, pois são, no fundo, a expressão da vontade soberana do Povo e pouco a têm respeitado.
Mas também não nos podemos esquecer que, mesmo nas legislativas, é em Lisboa que o PNR recolhe mais votos e onde tem maior área de influência, pelo que, é "normal" o PNR tenha crescido mais em Lisboa. Mas o PNR como partido não me intimida, por enquanto, pois não tem a projecção nacional que tem, por exemplo, Le Pen na França. O PNR é claro no que defende e quem vota no PNR sabe que está a votar na mudança de um regime de Estado... Preocupa-me mais ver certas manobras de poder nos partidos da A.R., esses é que realmente importam (por enquanto...)