quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Outubro 1917


Noventa anos depois, ainda há razões para comemorar?

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Povo que morres na estrada

A guerra mais trágica da nossa história recente continua a fazer todos os dias mais vítimas - a guerra nas estradas. À hora a que estas linhas escrevo, está-se a fazer o rescaldo e a contabilização das vítimas de mais um acidente trágico: treze idosos mortos e mais de duas dezenas de feridos na A23.

Porque nos matamos nas estradas? Que gene assassino nos corrompe o sangue e nos faz ser um povo de bárbaros quando nos agarramos a um volante? A explicação sem dúvida que é complexa. Mas julgo que parte da sua resposta reside em algo que, por mais governos que se sucedam, por mais leis e mudanças que surjam, há de continuar sempre a vitimar-nos: a falta de civismo.

A falta de civismo não é apenas fruto da nossa educação. De facto, quantos homens de bem, quantos homens importantes da nossa sociedade não conduzem mal? Recordo-me do caso de um deputado que foi apanhado em mais de uma centena de contra-ordenações. E que não cumpriu nenhuma devido à sua imunidade parlamentar. Mas mais exemplos podiam ser dados. Professores que se agarram na estrada ao volante como loucos, fazendo das auto-estradas autênticas pistas de corrida. "Meninos" da alta sociedade de Lisboa que nas madrugadas de fim-de-semana se divertem na Ponte Vasco da Gama com carros tunning.

A sociedade portuguesa vive de aparências. Ter carta é uma obrigação social imposta pelos amigos, pelos parentes. Não interessa se se sabe conduzir. Interessa, para as pessoas, ter na carteira o "precioso" documento que comprova que podem conduzir um veículo. Mal se perfaz dezoito anos, a idade mínima legal para conduzir, os adolescentes exigem imediatamente a carta aos pais. Os amigos perguntam logo quando se tira a carta. E tudo acaba, quantas vezes, com um cheque dado por debaixo do tablier ao corrupto engenheiro, com quarta classe mal tirada, que corruptamente passa mais um futuro assassino da estrada quando faz o exame de condução.

Um carro é uma arma. Ele pode destruir vidas. Nunca criar. A responsabilidade de ter um carro e conduzir é enorme. E o respeito pelos peões também o deveria ser. No entanto, quantas vezes um peão é obrigado a esperar longos minutos junto a uma passadeira até que um condutor civilizado lhe dê a obrigatória passagem...

Tudo isto seria digno de uma comédia, se não matasse todos os dias pessoas numa guerra imensa que já fez mais vítimas que o conflito em África que decorreu de 1961 a 1974. Até 4 de Junho, neste ano de 2007, 209 pessoas perderam a vida nas estradas. Estamos em novembro e o número certamente aumentou. Há poucas horas, mais treze vítimas foram adicionadas a essa contagem. Se estamos em guerra nas estradas, para quando se declara a Lei Marcial?

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Ribeira Negra

A obra maior do Mestre Júlio Resende - o painel Ribeira Negra - está finalmente à vista daqueles que homenageia: os cidadãos do Porto. De agora em diante, a Alfândega do Porto passa a ser a casa que acolhe a obra de um artista marcante no panorama nacional.

Reconheça-se também mérito à actuação espontânea de Rui Rio, que em poucos dias resolveu um problema que se arrastava à décadas.

fonte: Público

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Se isto é solidariedade...

A Câmara do Porto, num gesto de imensa compaixão, decidiu oferecer à moçambicana cidade da Beira um carro de lixo para este município manter limpas as suas ruas. Exceptuando o facto de o carro ter mais de 25 anos e de, após a sua utilização em actividade tão... digamos... suja..., estar apodrecido, para a imaginação do executivo camarário certamente era a prenda perfeita. Sonhavam eles que o seu gesto de bondade melhoraria as relações entre as duas cidades que até, veja-se lá, são geminadas. "Finalmente a população daquela cidade verá um carro de lixo", devem ter imaginado os doutos senhores da Câmara do Porto.

Mas, oh surpresa, a generosa oferta foi recusada. Afinal, eles também têm carros de lixo e modernos. Que surpresa para a Câmara do Porto... Afinal as populações de África até começam a evoluir...

Em resumo... Não vamos levar isto muito a sério que temos mais razões na cidade do Porto para ficarmos indignados com a governação camarária de Rui Rio e restante vereação. No entanto, a verdade é que certas ofertas por vezes podem ofender. É que por maior boa vontade que a oferta de um camião de lixo possa ser, esta "prenda" apenas revela a mentalidade quase ainda colonial de certas pessoas que passeiam pelos corredores do poder camarário tripeiro.

fonte: jn

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

O céu sobre a minha cidade


Um pôr do sol algures sobre a zona da cidade onde há largos anos me dei... Onde a vida fez por vezes mais sentido e outras não... Apenas mais um pôr do sol que em mim se eternizará... Mas cada um singular à sua maneira... No meu ser interior por vezes tenho a sensação que do sumário do que até aqui consegui, poderia colocar apenas os eternos pores do sol interiores vistos do segundo andar de um edifício cor-de-rosa, e agora os que são vislumbrados de um grande edifício amarelado...

Stanley Kubrick


Para os amantes de cinema, existem os realizadores preferidos de cada um. Pessoalmente, considero que os realizadores que mais amo são aqueles cujos filmes (re)descubro a cada nova visualização. São aqueles que conceberam filmes que se podem ver uma, duas, trinta, cem ou mais vezes sem alguma vez perdermos a vontade de sair da frente do ecran. São aquelas obras cinematográficas que instantaneamente e para todo o sempre nos acompanham pela vida. Que por vezes nos fazem realizar mentalmente cenas que nunca existiram. John Ford, um Sérgio Leone ou Howard Hawks são esses realizadores que me fazem apetecer, às vezes, reduzir o cinema à sua influência, passe o exagero de entusiasta do cinema.

Porém, há outros realizadores cuja obra admiramos mas que, ao princípio, achamos que não são "os nossos" realizadores. No entanto, numa segunda ou terceira visualização de um dos seus filmes, espantamo-nos pela nossa cegueira inicial. De repente começamos a rever a nossa concepção da sua obra. Um dos realizadores que recentemente me surpreendeu (e muito) numa segunda (ou terceira) vez que vi um dos seus filmes foi Stanley Kubrick. Sempre admirei o seu génio. No entanto, foi daqueles realizadores que nunca me entusiasmaram demasiado, excepção feita ao fabuloso Barry Lyndon (1975), filme brilhante e que, desde a primeira vez que o vi, me esmagou pela sua graça, pela inventividade técnica (a iluminação de interiores, só à luz das velas, é absolutamente extraordinária) e pelo argumento.

Recentemente, ao num destes dias estar a fazer zapping pela TV, parei na RTP1 que transmitia o A Clockwork Orange. Recordo-me da primeira vez que este filme tinha visto. Gostara. Mas ao mesmo tempo considerei-o demasiado kitsch. Quer na interpretação dos actores quer no argumento. Mas nesta segunda visualização... a minha ideia inicial caiu. A cada cena o meu espanto crescia. Surpreendia-me a montagem (bem pensado a forma nada convencional - em câmara acelerada - do ménage de Alex com as duas adolescentes). Fantástica a forma como a violência é doseada, como a nona de Beethoven nos transporta aos abismos das psicoses do personagem principal... Redescoberta surpreendente e agradável.

Nesse momento, percebi que tinha que rever minha posição sobre o cinema de Kubrick. E aos poucos me apercebi, num segundo contacto com os seus filmes, da sua grandeza. Percebi que a obra de Kubrick parte da sua tortura em busca da perfeição, em busca de um sentido estético absoluto para cada filme que concebe. Para ele, cada frame, cada som, cada gesto de um actor deve-se sincronizar em perfeição com um todo. Daí o seu modo torturado de filmar. Cada filme era uma prova de esforço tremendo: desde a concepção do argumento até à montagem, passando pelos longos meses de filmagens. Por exemplo, durante as filmagens de The Shinning (1980), Kubrick repetiu certas cenas até à exaustão. Conta-se que repetiu um take cento e vinte e sete vezes durante vários seguidos. Por causa do seu perfeccionismo, Jack Nicholson ia mesmo"enlouquecendo". Também para captar certos efeitos de luz, Kubrick "reinventava" modos de filmar. Para captar a já citada luz das velas em Barry Lyndon, o realizador usou as câmaras de filmar que a NASA utilizara para as missões à Lua.

Mas o mais fascinante em Kubrick é a sua versatilidade. Cada filme aborda um estilo, um género cinematográfico. Dr. Strangelove é uma comédia negra sobre a Guerra Fria. 2001 um filme de ficção científica que, por excelência, é também um filme filosófico, mesmo metafísico. The Shinning um filme de terror. E todos as suas outras obras podem ser rotuladas com um género diferente. Ao contrário de outros realizadores, Kubrick sempre pretendeu que cada filme entrasse para a história do cinema como único. Como uma experiência ímpar. Assim, podemos falar de um estilo Kubrick não devido a um leit-motif que percorre a obra da maior parte dos grandes realizadores, mas sim por uma forma inovadora de olhar para o cinema. De abarcar, numa vida inteira, toda uma quantidade de géneros, toda uma busca de novas experiências formais.

Essa a grandeza de Kubrick e de todo o seu cinema. Brevemente passaremos a escrever sobre os seus filmes, há medida que formos de novo redescobrindo a obra deste autor, agora um dos meus muito amados realizadores.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Presidência portuguesa consegue novo tratado

Fumo branco para o novo tratado europeu, como mostra o Público online. A presidência portuguesa tem assim a sua grande vitória na Cimeira Europeia de Lisboa. Prova-se, deste modo, que a nossa diplomacia também consegue ultrapassar com mérito os entraves criados por países como a Itália ou a Polónia, esta última que tem parecido querer vestir a pele de ovelha negra dos vinte e sete estados-membros da UE.

Apesar de achar que o futuro tratado de Lisboa acabará por revestir um carácter transitório (se calhar não tanto como o de Nice que logo após a sua assinatura desagradou a muitos países, principalmente aos maiores), acredito que este novo texto possa trazer um pouco de "paz" ao momento actual. A UE e o seu crescimento pode agora ser pensado (e sonhado) sem grandes pressões. Apesar das concessões que se fizeram (como a queda dos símbolos da Europa do tratado), o prolongar da discussão e a não assinatura deste acordo poderia ser fatal para a imagem da UE.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Dia da pobreza

Foi hoje assinalado o dia Internacional para a erradicação da pobreza. Uma data importante para relembrar que, em Portugal, 2 milhões de pessoas sofrem com este problema que, em pleno século XXI, devia ter o olhar atento dos governos, e em especial do nosso.

Quase todos os que estão a ler estas linhas mal escritas certamente que estão debaixo de um tecto acolhedor. Acabaram de almoçar ou jantar ou, se não o fizeram, têm comida no frigorífico para regalar o estômago quando sentirem necessidade disso. Têm os vossos problemas? Sim, todos temos, é verdade. Mas quem estas linhas lê tem internet. Senão em casa pelo menos no local de trabalho ou na escola. Pode queixar-se do emprego, de as coisas não estarem a correr bem na escola. Mas não tem como tecto as estrelas e como casa-de-banho a sarjeta da rua. Não tem a vergonha de pedir esmolas à porta das igrejas ou nas artérias mais concorridas da cidade.

Sei que estou a ser exagerado. Que a definição de pobreza que estou a dar não se coaduna com a realidade. A maior parte dos pobres tem casa. Mesmo que seja em condições precárias, como nos bairros sociais, muitos deles degradados. Ser pobre é, como explicam hoje o Público e o JN:
É considerado pobre quem ganha menos de 60% da mediana dos salários do seu país. Isto é, quem tem rendimentos inferiores a 60% do vencimento auferido por metade da população. No caso de Portugal, corresponde a 360 euros por mês, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística referentes a 2004.
Ou seja, este número atinge 19% da população portuguesa. Este problema faz o país sangrar de vergonha. Porque ao mesmo tempo, os ricos estão cada vez mais ricos. Cada nesga de terra, em qualquer centro urbano, serve para construir casas. A construção civil impera. Os grandes grupos abrem centros comerciais por toda a parte. Veja-se o exemplo do Porto Plaza, que abrirá as portas muito em breve. Um grande centro de consumismo a apelar ao endividamento, aberto a poucos metros da Capela das Almas no cruzamento entre Santa Catarina e Fernandes Tomás. Onde, desde sempre, me recordo de ver um ou dois pobres a pedir. Hoje estavam lá. Eu vi-os... Até quando este país tem remédio?



Curiosidades da minha zona

Na zona do Porto onde vivo, onde ainda se podem encontrar casas modestas com jardim e viradas para a rua, encontrei hoje esta simpática planta...

Image Hosted by ImageShack.us
By duartesd at 2007-10-17

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

A Guerra

Começa amanhã a ser emitida aquela que pode ser uma série marcante na TV portuguesa. A Guerra, longo documentário de Joaquim Furtado sobre o fim sangrento do colonialismo português (para outros será o fim do Império), promete ser um acontecimento no nosso doloroso panorama televisivo.
Documentário que demorou vários anos a concretizar-se, A Guerra, pela qualidade de Furtado como jornalista (é dos poucos da velha guarda) e pela investigação que levou, será um retrato fiel de um dos maiores traumas portugueses. Esperemos que seja o momento necessário para encararmos o que fomos num passado recente.
Assinalo que é curiosa a pouca divulgação que A Guerra está a ter. Apesar de passar em horário nobre (aplauda-se nisto a RTP), o documentário não está a ter a mesma divulgação que teve a série de António Barreto, Portugal - um retrato social. Será pelo duro tema que ainda tantas feridas abre, ou pelo seu autor?

Amanhã, na RTP1, pelas 21h.

domingo, 7 de outubro de 2007

O que ando a ler...


A sétima porta. O último romance de Richard Zimler é o primeiro deste autor em que me atrevo a mergulhar. Apesar de outras leituras em perspectiva, A Sétima Porta passou todos os outros livros que tenho "em fila de espera" à frente. A razão talvez seja o romance passar-se em Berlin, cidade especial de que gosto profundamente e de que tantas vezes me recordo. Também o facto de Zimler ter sido meu Professor ( um dos poucos que no meu íntimo distingo com P maíusculo) incentivou a decisão de começar a ler este grosso livro.
A experiência tem sido boa. Sinto curiosidade em prosseguir as "aventuras" de Sophie, jovem berlinense que tem como irmão uma criança autista, e como vizinho um misterioso judeu, de nome Isaac Zarco, descendente de portugueses. O romance passa-se nos anos de ascensão de Hitler ao poder...

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Suspiro cansado

O verão inteiro a prometer-me uma longa tarde em jardins encantados pelas paisagens maravilhosas do Porto, acompanhado com um bom livro para me perder despreocupadamente noutros mundos. O verão inteiro para me falhar nessa promessa.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

O que ando a ver...

Regresso ao cinema mudo, ao génio de Charles Chaplin

The Immigrant (1917): Comédia genial em que o "vagabundo" (the tramp, a figura criada por Chaplin) é um imigrante. A cena da chegada à América, com a filmagem em plano médio do rosto dos imigrantes cheios de esperança, inspirará Coppola para uma cena semelhante quase 60 anos depois em The Godfather II.

A Dog's life (1918): Média-metragem em que o "vagabundo" tem como aliado também um pequeno cão abandonado. As cenas passadas no bar são hilariantes, e o pequeno vagabundo e o seu companheiro acabam por ter um final feliz.
The kid (1921): um dos mais enternecedores filmes de Chaplin. O "vagabundo" vê-se com uma criança em mãos. O resultado são risos e situações comoventes.
Pay day (1922): uma das melhores comédias de Chaplin. A inventividade dos gags domina o filme do princípio ao fim. Chamo a atenção para a cena em que Chaplin apanha os tijolos que lhe atiram. Puro génio.
The circus (1928): é um filme imortal, que daria para uma grande reflexão sobre Chaplin. Filme último e filme primeiro. Homenagem a um tipo de cinema que estava em declínio - o burlesco - na primeira parte do filme. Passagem, numa segunda parte, para um tipo de humor diferente. Para um vagabundo que reconhece que o seu papel mudou. Já não é ele que fica com a rapariga no fim. Já não tem lugar no "circo". Só a solidão lhe resta. A despedida da sua eterna figura de "clown" começa a desenhar-se neste filme, sendo praticamente consumada no seu filme seguinte, City Lights (1931).



domingo, 23 de setembro de 2007

Crónica ao domingo

Van Gogh, Campo de Trigo com Corvos, Auvers-sur-Oise, 1890

Perdoem-me os meus leitores pela parca regularidade deste blog. A vida não tem deixado mais tempo para estar em frente a um computador a escrever, para além de, acreditem, ser saudável por vezes afastarmo-nos dos meios de comunicação como a Internet ou os telemóveis. Sabe bem agarrarmo-nos a um bom livro ou filme e com eles também viajarmos por mundos virtuais da nossa imaginação. Porém, faço aqui um pequeno balanço das situações que me chamaram a atenção nesta semana que passou. Porque um dos maiores prazeres que ainda tenho é ler jornais e manter-me informado.

1) Na próxima sexta-feira o PSD elege um novo líder. Desde cedo que tenho o feeling que Marques Mendes voltará a vencer a eleição de líder do partido, perdendo assim Menezes um grande sonho de protagonismo. No entanto, dos dois qual o menos mau? Mendes é um homem do aparelho. Desde que comecei a perceber algo de política que no PSD surgia sempre, ao lado do presidente do PSD ou no Parlamento, a figura caricaturável de Marques Mendes. Não sendo um grande líder, é no entanto alguém que chegou à actual liderança numa sucessão de acontecimentos que lhe foram favoráveis - desde a saída de Durão para abraçar um cargo de alto prestígio (sim, continuo a defender Durão pela sua escolha, não falando de "fuga", palavra tão apreciada pela extrema-esquerda) até ao governo anedótico de Santana, vários acontecimentos fizeram Mendes chegar ao poder no PSD. Mendes, pelo que me parece, não trouxe nada de novo ao partido. Admiro-lhe uma certa coragem por limpar o PSD dos famosos casos de corrupção que levaram ao surgimento dos candidatos bandidos. Porém, julgo que não tem condições para ser um primeiro-ministro à altura do país. Não ganhou um único debate parlamentar. Não demonstra ter uma ideia decente para Portugal. Mesmo na sua recente entrevista ao Expresso as suas ideias para o país são confrangedoras, e denunciam os temas de batalha que o PSD conheceu desde sempre, com muitas referências à liberalização pelo meio.

Menezes... Apesar de não o apreciar como grande político e achar que lhe falta o perfil de homem de Estado, a verdade é que lhe reconheço obra em Gaia. Vivo do outro lado do rio (que palavra ambígua...), e nos últimos anos vi a maior cidade do norte do país transferir os seus maiores valores para a margem esquerda do Douro. Menezes fez coisas boas por Gaia, sem dúvida. Transformou uma cidade periférica numa cidade que amedronta a Invicta. Teve coragem para seguir em frente quando muitas vezes a cautela aconselhava calma. Teve coragem para impôr as suas ideias ao eleitorado. Olhando como cidadão, admiro o que ele fez por Gaia e o modo como roubou protagonismo ao Porto, a minha cidade, apesar da grande justificação para este estado de coisas ser na outra margem, como rival, Menezes encontrar um presidente de câmara politicamente inepto. Se eu fosse militante do PSD (o que nunca serei) o meu voto iria para Menezes, o menos mau dos dois candidatos. O maior partido da oposição precisa de vida. De sangue novo. E com Mendes não vai lá, está visto.

2) Não tem sido muito boa a Presidência portuguesa da União Europeia. Desde o utópico tratado reformador não atar nem desatar (que apenas é um tratado para a história antes da inevitável constituição porque um dia a Europa há de ter a sua constituição formal) até às gaffes de Sócrates na América, Portugal não tem apresentado bom trabalho a nível europeu. A última má noticia parece ser o aparente falhanço da cimeira UE-África. Com Mugabe e sem Gordon Brown, a cimeira arrisca-se a discutir direitos humanos, arrisca-se a ser uma sucessão de palavras vãs de apoio aos líderes africanos. E, mais uma vez, arrisca-se a que não se discutam os verdadeiros problemas de África, continente que parece amaldiçoado. Falar-se-á da fome que afecta milhões de seres humanos de relance, e a discussão acabará num faraónico banquete. Discutir-se-á a SIDA em poucos minutos. No fim, mais uma vez, os políticos deixarão palavras vãs para a construção de África. E o continente negro continuará como uma ferida na crosta terrestre, desde que os primeiros colonizadores lá chegaram.

3) Confrangedora a recepção ao Dalai Lama em Portugal. O país presidente da UE mais uma vez mostrou que prefere navegar ao sabor dos interesses económicos do que receber o líder de uma causa nobre. Certamente Sócrates e Cavaco temiam que Ana Paula Vitorino, a secretária de estado dos transportes em visita à China naquela altura, fosse raptada se recebessem o Dalai Lama.
A verdade é que este caso vem demonstrar a falta de coragem dos políticos portugueses (excepção feita a alguns, como Jaime Gama). E vem provar que, apesar da UE diluir diferenças políticas, atitudes como a de Angela Merkel ou da Generalitat da Catalunha, que receberam o Dalai Lama com honras de Estado, marcam a diferença entre as grandes nações (permitam-me a ousadia de rotular a Catalunha como uma nação) e as pequenas. E assino por baixo o que afirmou Marcelo Rebelo de Sousa sobre a justificação de Luís Amado: ou somos (portugueses) muito estúpidos, ou ele disse uma coisa estúpida (as razões óbvias).

4) 30 anos depois. Os eléctricos estão de regresso à Baixa do Porto. Admirador confesso deste meio de transporte, não foi sem emoção que presenciei, nesta sexta-feira que passou, o regresso dos "amarelos" ao coração da cidade. O Porto merece ver correr nas suas artérias nobres os velhos eléctricos, amigos do ambiente e simpáticos para os passageiros. Apesar de não ser fruto da sua governação (o projecto do regresso dos eléctricos estava previsto desde a Porto 2001, na altura em que o PS mandava na câmara da Invicta) Rui Rio tem o mérito de ter pegado no simpático projecto dando-lhe rodas para andar. Concordo com ele, apesar de ter dito de forma demagógica, quando afirmou na inauguração que o regresso dos eléctricos à baixa "faz o Porto ser mais Porto". Foi o que eu senti ao ver passá-los na tarde de sexta. E também o sentiram os comerciantes e a população da cidade quando aplaudiu a sua passagem. Só mentes fechadas como as de Laura Rodrigues, presidente da Associação de Comerciantes do Porto, não entendem a tipicidade deste meio de transporte, a importância que poderá ter para trazer gente à baixa. Também das hostes do BE surgem críticas a Rui Rio por em 2001 ter negado o projecto e agora estar a apoiá-lo. Mas um político não pode mudar de opinião? Infelizmente, o BE perdeu uma oportunidade de ficar calado. Mas se este partido só falasse quando tivesse boas ideias, talvez só de longe em longe o ouvíssemos.

5) Adeus Mourinho. O Chelsea mandou embora o maior treinador da sua história. Como já hoje se notou (perdeu 2-0 contra o Manchester United), começa agora um período de declínio da equipa londrina. Porque Mourinho é único. É o special one. Quando se soube da sua saída, os adeptos de Portugal inteiro sonharam, por momentos, que o melhor treinador do mundo rumasse ao grande que habita nos seus corações. Eu próprio por momentos sonhei com o seu regresso. Mas logo caímos na real. Mourinho não vem para Portugal. Este país é demasiado pequeno para ele.

6) A Parceria A. M. Pereira editora é, na história do mercado livreiro português, uma das editoras que já melhor catálogo tiveram. Famosa ficou pela sua colecção camiliana em 80 volumes entre outras edições. Depois do 25 de Abril, a editora entrou em declínio e voltou a abrir à uns anos atrás. Na altura em que voltou ao mercado, lembro-me de pensar que seria uma boa ideia eles relançarem, em edição facsimilada, a Mensagem de Fernando Pessoa, porque foi nesta casa editora que o nosso maior poeta editou o seu único livro em português em 1934. No mesmo dia em que os eléctricos regressaram à baixa, tive uma bela surpresa na FNAC. No escaparate das novidades lá se encontrava a Mensagem. Edição facsimilada.

7) "Pare, escute e olhe". Desde que existem comboios que este aviso prolifera em tudo o que são locais de atravessamento da linha férrea. Nos últimos tempos, porém, várias notícias têm vindo a público em relação a atropelamentos mortais por comboios. Normalmente, depreende-se da notícia que a culpa é do atropelado... Lembro-me quando era mais novo ir várias vezes no verão a Espinho, cidade nascida nas margens da linha do norte, principal eixo ferroviário em Portugal. E recordo-me, ainda hoje, que fechadas as cancelas para passar o comboio, as pessoas usavam e abusavam da sorte. Desde idosos apressados para a praia até jovens ousados. Só mesmo quando a passagem do comboio estava eminente é que ficavam quietos. Porque cumprir regras básicas de segurança não está nos hábitos do português, que julga que tudo acontece aos outros. Depois, admiram-se que a culpa seja das más localizações das passagens-de-nível, mesmo que esta esteja a meio de uma enorme recta. E as tragédias acontecem.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Memorial de 11 de setembro

Deus deve estar de costas voltadas para o mundo neste dia 11 de setembro, dia de relembrar tragédias nacionais e internacionais.

1 - 11 de setembro de 1973. Chile. Dia de um dos mais sangrentos golpes de Estado do século XX. Há 35 anos atrás Pinochet chegava ao poder à custa da invasão do Palácio de Moncloa, residência do Chefe de Estado chileno, onde um corajoso Salvador Allende, presidente eleito democraticamente, defendia o país de um golpe fascista. Ali ficou. E depois dele, o Chile assistiu a uma página negra da sua história. Milhares de oposicionistas ao regime desapareceram. Outros foram torturados e ficaram marcados para toda a sua vida. E o ditador, Augusto Pinochet, em paz morreu o ano passado, apenas com o julgamento da história. Mas esse o que importa depois de morto?

2 - 11 de setembro de 2001. EUA. Era uma terça-feira de fim de verão, uma quente terça-feira. Preparava-me para, em família, dar umas voltas pela baixa. Antes de iniciar o périplo, como é hábito, passei no café habitual. Ao entrar reparei que os olhos dos fregueses estavam à televisão colados. Mas não me apercebi imediatamente do que estava a acontecer. Um avião passa ao lado de uma torre... mas... não aparece depois do outro lado da torre? E aquilo onde é? Aqueles edifícios são em Nova Iorque... Aproximei-me da televisão. As imagens tinham mudado de repente, e os pivots davam atabalhoadamente outra informação: um avião tinha colidido com o Pentágono. Não me queria acreditar. Naquele momento nada se podia pensar. Todas as ideias culpas e sentimentos que podíamos exprimir não acompanhavam a mudança que acontecia em directo, vista pela televisão em todo o planeta. Um mundo onde as ilusões de segurança se desmoronava com as twin towers. Um século XXI trágico ali começava. E depois dele Iraque, Afeganistão, Madrid, Londres, etc. complementaram o que ali tinha começado: um novo mundo onde os mais bárbaros instintos passaram a reinar. Milhares de inocentes mortos desde esse dia.

3 - 11 de setembro de 1985. Portugal. O verão caminhava para o seu fim. Era a altura dos emigrantes voltarem às suas ocupações em terras de França, onde buscavam a fortuna. Deixavam para trás a terra amada com uma lágrima no canto do olho. Na altura o transporte aéreo ainda não se generalizara. Os aviões eram para os ricos. Os dois principais aeroportos portugueses, Portela e Pedras Rubras, eram aeródromos. A principal forma de sair do país e voltar à Europa era de comboio, mais concretamente no Sud Expresso. Nesse dia a viagem não foi feliz. Devido a erro humano, na linha da Beira Alta, ao chegar à localidade de Alcafache o comboio internacional colidiu com um regional que fazia a ligação Guarda-Coimbra. O resultado foi uma das maiores catástrofes da história ferroviária em Portugal. Mais de cem pessoas pereceram no meio de carruagens em chamas. Quem sobreviveu a esse inferno, e quem o combateu (os bombeiros foram autênticos heróis), para sempre ficou marcado pela tragédia.

Tudo isto foi a 11 de setembro, uma data marcada para infortúnios. Uma espécie de dia da besta. Talvez em mitologias satânicas, ao lado do famoso número 666, 11/09 seja usado para lembrar um dia de desgraça. Porque para além do 11/09 de 2001, também em 1973 no mesmo dia aconteceu o sangrento golpe de estado no Chile conduzido por esse demónio depois disfarçado de bom velhinho que deu pelo nome de Pinochet. E, em 1985, cá por Portugal, aconteceu o mais grave acidente ferroviário em terras lusas. Em Alcafache, no concelho de Mangualde, na linha da Beira Alta.

Links sobre Alcafache:

Bombeiros de Canas de Senhorim

Fotografias de Alcafache


Mangualde online

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Tudo se resume a números

Tudo se resume a números.

Assim pensa o governo em relação às suas áreas de intervenção fundamental. Todos os dias lemos e vemos nos jornais e televisões que os assaltos violentos à mão armada continuam. O ministro da Administração Interna vem ao Parlamento dizer que «A actual situação é dominada pelas forças e pelos serviços de segurança. A criminalidade desceu no primeiro semestre deste ano, mas o Governo acompanha com toda a atenção, solidariedade com as vítimas e condenação veemente dos criminosos os recentes crimes graves e violentos» (a onda de violência começou a partir de Julho, vamos ver o que os números de Dezembro mostram).

Vive-se mais um começo de ano lectivo turbulento, com problemas de colocação nas escolas e 45 mil professores no desemprego. O governo lança areia para os olhos mostrando estatísticas sobre o "choque tecnológico" a partir de um obscuro "ranking da Universidade de Brown".

Os números valem o que valem, e as estatísticas são importantes para medir o pulso a muitas políticas e situações sociais. Porém, eles são apenas um espelho da realidade. E os espelhos por vezes, sem grande luz a reflectir, dão uma ideia errada do que se passa. As estatísticas são sempre subvalorizadas quando não interessam. E o contrário é uma festa para os governantes. Se este governo começar a ver as intenções de votos a diminuir e as eleições a aproximarem-se, talvez faça como Cavaco Silva quando se aproximava a queda do seu governo: questionado sobre sondagens negativas, afirma, em passo de corrida, que as sondagens não tinham grande valor e que o governo tinha as suas próprias sondagens. Um jornalista radiofónico pergunta-lhe: e o que dizem essas sondagens? Nesse momento, aconteceu o silêncio mais revelador da história da rádio em Portugal.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

O prazer de ler Camilo


Nas pausas de algum estudo e de algumas saídas de casa, tenho ocupado o tempo a (re)ler Camilo Castelo Branco. E que bem sabe pousar os olhos nas palavras de um dos nossos maiores escritores, actualmente tão esquecido.

Comecei a ler Camilo quando ainda era muito jovem. Na altura a sua escrita já me encantava. Porém, confesso a dificuldade que tinha em perceber todos os sentidos do seu estilo vernacular, de penetrar em toda a sua fina ironia. Regressado agora às obras deste "agrilhoado das letras", como ele se apelidava, espanto-me com a descoberta de novos sentidos e interpretações. Aprendo, também, os sentimentos e personalidade do povo português do século XIX: desde os bons camponeses do Minho até aos burgueses do Porto. Passando por histórias de amores impossíveis, de fatalidades, até aos casamentos felizes e às histórias de filhos naturais a quem a sorte acaba por sorrir.

O estilo narrativo de Camilo é, também, extraordinário, já que o autor percorre os seus textos comentando-os com sinceridade, malícia, ironia, dirigindo o leitor para onde quer nos seus contos, novelas e romances.

Um escritor eterno. Que recomendo vivamente nestas longas "noites de insónia" deste Verão de Setembro.

Casos de Polícia

Portugal vive por estes quentes dias de Verão um grave problema que, se não for controlado atempadamente, pode um dia tornar-se mais incendiário do que os incêndios florestais. Refiro-me à onda de criminalidade que assola as noites do Porto e de Lisboa, para além dos diários assaltos a bombas de gasolina e a joalheiros que causam vítimas mortais. Entre outros tantos casos de violência extrema...
Porém, segundo o Público online, vários polícias agrediram um grupo de jovens na zona do Parque das Nações em Lisboa:

A PSP está a investigar a autoria e veracidade de um vídeo que circula na Internet desde esta semana e onde um grupo de alegados polícias agridem violentamente um grupo de jovens na zona da Expo, em Lisboa.


Na notícia segue o link para o vídeo que se encontra no Youtube. Estranhamente, como refere o Público, ninguém apresentou queixa em nenhuma esquadra da PSP. O que me faz pensar que a culpa pelas agressões possa não ser da polícia. Não poderia esta estar a defender-se? Não têm os agentes da autoridade direito à autodefesa? É inacreditável que em Portugal, país com cada vez mais problemas de insegurança, a nossa polícia seja tantas vezes vista como maus da fita. Podem sempre existir alguns elementos menos bons, como em todas as profissões. Porém, a verdade é que Portugal ainda não se livrou totalmente do trauma de antes do 25 de abril em que o agente policial era visto como elemento ao serviço de uma entidade superior que sugava a liberdade à população. Essa mentalidade tem que mudar, e temos que deixar a polícia fazer o seu serviço.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

União Ibérica: Cavaco responde a Saramago

Pronunciou-se o Presidente da República acerca da polémica despoletada por Saramago sobre a possibilidade de uma união ibérica. Afirma Cavaco, segundo o Público online, que tal hipótese de união real é "absurda.

Cavaco Silva, como Presidente da República, tem todo o direito de fazer estas declarações já que a sua figura como órgão de Estado (também) é uma garantia da independência nacional. Porém, Cavaco perdeu o "timing" certo para mostrar a sua posição, já que esta surge apenas dois dias depois de Saramago ter declarado ao Expresso que nunca cumprimentaria o actual Chefe de Estado. O presidente não quis declarar a sua indignação perante a ideia de uma união entre dois países quase imposssíveis de unir. Antes quis mandar uma indirecta a Saramago pela sua recente entrevista.

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Mystic River


Talvez as coisas tivessem sido diferentes se um dos outros dois rapazes tivesse entrado no carro em vez de Dave. Mas o certo é que aquele momento para sempre marcou os três amigos. “Todos nós entramos naquele carro”, dirá Sean a Jimmy quando as vinganças enganadas serão já impossíveis de reparar. Aquele momento destinou os três miúdos para o ofício da morte, ali naquela estranha cidade de Boston banhada pelas poluídas águas do Mystic.

Do trio era Dave o mais tímido. O seu olhar denunciava fragilidade e medo. Foi por isso, talvez, que se tornou ele o “escolhido” para sofrer, qual cordeiro levado ao sacrifício. Ganhou com isso ainda mais medo. Mas agora um medo raivoso, prestes a explodir. Fará mais tarde justiça com as próprias mãos.

Mas no dia em que o olhar de cordeiro dorido de Dave transbordou o ódio e em nome do passado magoado fez das fraquezas força, as margens do Mystic conheceram mais sangue e morte que, devoradora como as leoas grávidas, se precipitou numa escalada de violência que terá talvez o seu final no desejo reprimido de Sean matar Jimmy. Foi neste dia de morte que os três amigos, agora já adultos, voltaram a cruzar os seus destinos. Perceberam que algo tinham em comum – um passado que estava em cada um deles por resolver talvez desde aquele fatídico dia em que perpetuar os nomes no cimento se revelou uma tragédia.

Jimmy não queria que a filha mais velha amasse o filho de um inimigo misteriosamente desaparecido. Talvez porque as razões de que se travaram anteriormente fossem fortes demais para que o amor dos dois adolescentes se tornasse impossível, qual Romeu e Julieta dos tempos modernos. Quinhentos dólares serão, por isso, talvez o sinal de um sentimento de dever remoído marcado pela morte, essa bailarina à beira-rio portadora no seu ventre de ódios e civilizações.

Sean, o único dos três amigos que desconhecemos se alguma vez matou, é polícia e não sabe pedir desculpa à mulher que tanto ama. Seis meses se passaram em telefonemas mudos. Porque se calhar para ele o destino devia ser encarado como um dever, qual polícia a cumprir ordens com orgulho, é que os sentimentos eram postos à parte. Só quando se apercebe que demasiado sangue escorreu devido a orgulhos feridos e a ódio é que ganha coragem para se tornar humano e perceber que a entrada no carro foi o fim de muita coisa mas não do mundo. É naquele local que o mudou para sempre que saberá dizer as primeiras palavras certas em seis meses. Interrogamo-nos se Sean se teria tornado polícia se tivesse sido ele a entrar no carro. Se sentiria o desejo de fazer justiça por via legal, enquanto os seus companheiros de infância escolheram a via do ódio para resolverem o passado.

A verdade é que Sean era o vértice do grupo, o que unia os três amigos. Fazia a ponte entre o “transgressor de cimentos frescos” Jimmy com o assustado Dave. Mas tudo isso acabou no dia em que este último entrou no carro e o terror futuro se despoletou.

As águas do Mystic correm vermelhas de sangue a caminho do Atlântico. Será por cima dele que Sean sabe que terá que reencontrar Jimmy. Mas já não encontrará um rapazinho traquina. Antes um homem cheio de dor pela morte de uma filha, culpando-se por não conseguir chorar por ela. Sabemos no entanto que o seu estado de alma é sincero. O seu ferido grito de morte atinge os céus quando sabe as notícias que nenhum pai quer receber pois violam a ordem da natureza. “Ela olhou para mim como se fosse a última vez”, dirá a Sean. Frase que evoca os fantasmas do passado íntimo de Sean.

Jimmy, Sean e Dave estavam desde aquele fatídico dia marcados pela tragédia. Mas mais sangue derramado veio juntá-los de novo fisicamente. A violência os tinha desunido. Um novo sacrifício os uniu outra vez, no dia em que outros três amigos, também nascidos do Mystic, entraram num carro agora imaginário. Um perdeu o amor da sua vida já nunca mais lhe podendo pedir perdão se assim tivesse que ser. Outros dois tornaram-se assassinos mudos e talvez no futuro um deles venha a ser assassinado pelo outro. Porque ali, nas margens do Mystic, o tempo sempre retorna e o passado vem sempre ajustas contas.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Champions


Já são conhecidos os adversários dos três grandes na Champions League. O FC Porto volta a cruzar-se com Liverpool e Marselha, tendo como novidade os jogos com o Besiktas de Istambul. O Porto parte como favorito ao segundo lugar, apesar de eu acreditar que podemos fazer uma surpresa com os ingleses que já ganharam o troféu por 5 vezes, e são os vice-campeões em título. Para isso, basta que Jesualdo Ferreira tenha fé e consiga da equipa um bom resultado no primeiro jogo em casa.

Ao Benfica saíu a fava. Vai ter que medir forças com o campeão europeu, equipa praticamente imbatível. O Ac Milan é um eterno colosso do futebol mundial. Equipa que raramente tem dias difíceis, será sem dúvida a grande vencedora do grupo D. Celtic e Shakhtar completam o ramalhete. A dúvida que me coloco é se o Benfica de Camacho será suficientemente forte para estas duas equipas. A ver vamos.

Sporting teve de novo algum azar no sorteio, apesar de acreditar que podem fazer uma "gracinha" frente à Roma, discutindo de igual para igual o segundo lugar. O Manchester será, certamente, o grande vencedor do grupo. Ronaldo, Rooney, Nani e companhia constituem uma equipa fortíssima que dá prazer em ver jogar (apesar de estar a passar por uma fase um pouco complicada). A interrogação que tenho é em relação à forma do Dynamo Kiev. Maus resultados nas últimas campanhas europeias irão ser repetidos, ou o ex-colosso soviético tem condições para voltar em grande à ribalta europeia? Repito a frase final do parágrafo anterior: a ver vamos...

Amanhã realiza-se a Supertaça europeia. Uma das equipas entrará em campo com o fresco luto na alma. Antonio Puerta, o malogrado jogador sevilhano falecido na passada terça-feira, ensombra a festa. Mas apesar de tudo, que o jogo seja uma grande homenagem àquilo que Puerta amava: o futebol.

sábado, 25 de agosto de 2007

Para lá do fio do horizonte

Li agora no Público online: morreu Eduardo Prado Coelho, um dos mais brilhantes intelectuais portugueses. Com ele o vazio de comentadores e cronistas acentua-se, neste cada vez mais seco país. A sensação que me invade é a de vazio. Perdi um dos meus "professores". Durante anos, a sua crónica no Público - o "fio do horizonte" - era a primeira leitura da manhã (tinha o estranho hábito de ler os jornais de trás para a frente). Do futebol ao cinema, passando pelas últimas edições no mercado livreiro e pela política, Prado Coelho mostrava-se atento, de forma independente, séria e por vezes bem humorada (principalmente em relação ao futebol) ao que se passava à sua volta. Hoje isso acabou infelizmente.

Sai amanhã, no Público, a sua última crónica, escrita ontem a poucas horas do fim. Em jeito de homenagem, se eu fosse editor do jornal, amanhã colocaria essa crónica na primeira página. Seria justo.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Comboios do Douro

Algumas fotos dos comboios que percorrem ou já percorreram as linhas do Douro (cortesia da White Castle e da sua máquina fotográfica:-)

A 1455 a puxar um comboio interregional na estação da Régua.


Locomotiva de via estreita muito bem conservada que faz o comboio histórico da linha do Corgo.

Panorama do "museu de comboios fantasmas" na Régua. Um crime ter estas máquinas ao abandono.


Por esse Douro acima



Compreendo agora intensamente o primeiro parágrafo de Fanny Owen, belíssimo romance-guião de cinema de Agustina Bessa Luís:

O rio Douro não teve cantores. Teve-os o Mondego e o Tejo também. Mas, para além das cristas do Marão, em vez do alaúde e da guitarra havia o repique dos sinos ou o seu dobrar espaçado. Havia o tiro certeiro dos caçadores de perdiz, lá pelas bandas da Muxagata e do Cachão da Valeira. E o clarim das guerrilhas ouvia-se através da poeira de neve que cobria os barrancos de Sabroso. O rio Douro ficou banido da lírica portuguesa com a sua catadura feroz pouco própria para animar os gorjeios dos bernardins, que são sempre lamurientos e que à beira de água lavam os pés e os pecados. E, no entanto, trata-se de um rio majestoso como não há outro. Eu vi-o em Zamora e não o reconheci; diz-se que as margens eram carregadas de pinheiros e daí o seu nome dum que quer dizer madeira. Mas entra em Portugal à má cara. Enovela o caudal sobre penhascos, muge e ressopra como um touro com molhelha de couro preto a subir uma calçada. Não creio que os poetas o habitem; e, no entanto, Dante tê-lo-ia amado e preferido; como preferiu os estaleiros incandescentes de Veneza e os tumulos abertos das arenas de Arles, para descrever o inferno. Por cá, são brandas as liras; com o aguilhão da fome, às vezes saltam umas revoltas que vibram na Calíope alguma bordoada. Com o ferrão do amor, não se cometem senão delitos em forma de soneto ou de sextilhas. Epopeias são raras, as musas são mimosas e não ardentes.

Impossível cantar este magnífico vale encantado que eu tanto aprendi a amar. Aqui no seu fim, no seu abraço com o mar, quantas vezes o desejo de partir a montante me chama, num abafado sinal de partida nos velhos comboios. Numa comoção serena perante a majestosidade deste rio que sinto tanto meu. Sinto que se grande lírico me tornasse, jamais conseguiria descrever o extâse que me toma no seu contacto, seja nas verdes margens da zona Régua e do Pinhão, seja nas escarpas impossíveis de alcançar depois do Tua. Este vale é o nosso grande património natural. Trata-se de um rio majestoso, como não há outro...


Obrigado pela viagem amigos. Levar-vos-ei no meu coração e Foz Côa também.

O Leopardo

"Nós éramos os leopardos, os leões; esses que nos substituíram são os chacais, as hienas; e todos os leopardos, chacais e ovelhas continuarão a acreditar que são o sal da terra."

Magnífico filme de Luchino Visconti "retirado" da novela homónima de Tomaso di Lampedusa, O Leopardo mostra o fim de uma era na Sicília (e também no resto do mundo) e o começo de outra que, por mais profundas mudanças que traga, fará com que tudo continue como está. Contradição? Não obrigatoriamente. Fabrizio di Salina, o nobre príncipe (brilhante interpretação de Burt Lancaster) percebe que o mundo à sua volta, comandado pela nobreza, está a ruir com o devir revolucionário dos novos tempos, personificado nos burgueses sem nobreza mas que passaram a ser donos do capital. Mas a mudança nada traz de novo. A miséria continuará a imperar nas ruas e Palermo e de Donnafuggata. E os revolucionários acabam por de novo trazer ordem à sociedade. A diferença mesmo reside na imortal frase de don Fabrizio que encabeça este pequeno post.

Um filme eterno como quase todo o cinema de Visconti (confesso, não gosto de Ossessione...). E, apesar de cara a edição que existe editada em Portugal na Costa do Castelo, o milaculoso restauro do filme vale cada euro.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Crónica de viagens de comboio sonhadas e reais

Desde criança que o comboio é o meio de transporte que mais me fascina. A essa parte da minha vida – jardim poético do passado – estão intimamente ligadas as viagens de ida e volta ao Porto nas férias, quando vivia no interior do país. Estão ligados os passeios com o meu avô às estações das minhas duas cidades, onde passava a tarde a ver partir e chegar os comboios. E depois, também tive a sorte de encontrar um terceiro avô apaixonadíssimo por comboios (e tenho mesmo que recorrer ao superlativo) que me contava as viagens maravilhosas que fazia pelo país nesse seu terno meio de transporte. Foi com ele que pela primeira vez ouvi falar das linhas do Sabor, do Tua, do Corgo, do Vouga, entre tantas outras. Os seus relatos fascinavam-me e faziam-me viajar, também com ajuda das suas fotografias, por um país mágico. E sempre ansiei pelo dia em que me metesse a caminho para explorar as linhas desconhecidas. Poucas restam, estando amputadas na sua extensão e dignidade. Mas a vontade de conhecer o que restava era muita.


Há volta de um ano encontrava-me no Café Progresso, local de passagem habitual. Abri o antigo Público e li que a CP estava a ponderar, em breve, deixar de explorar as linhas de via estreita do Douro. Percebi que tinha chegado o momento de fazer a tão ansiada viagem. Não podia passar do Verão. Culpar-me-ia para sempre se tivesse deixado escapar esta oportunidade.

O Verão chegou. E com ele a tão ansiada viagem. Com um amigo parti pela linha do Douro acima, ainda o Sol se estava a mostrar timidamente no horizonte. Objectivo: linha do Tua. Apesar de tanto já saber por relatos e por fotografias dessa linha, a experiência vivida é melhor que mil imagens ou palavras. Após o transbordo, já na automotora verde que parte da estação do Tua rumo a Mirandela, espantei-me com a beleza natural da paisagem atravessada. Por meio de escarpas acidentadas e falésias o comboio seguia. Lá em baixo o rio Tua corria num ténue fio de água. Pouco verde havia nos montes. O castanho e o cinzento dominavam. E o comboio avançava naquela paisagem natural com sítios impossíveis ao homem de chegar. Por vezes parecia planar no precipício tão curta a berma onde os carris assentavam. Os túneis em curva de surpresa surgiam. E a cada saída destes, a paisagem parecia engrandecer. Ao cimo dos montes pequenas aldeias e casas isoladas se avistavam na outra margem. Por vezes também pequenas estações surgiam. Todas completamente ao abandono.

Era dia de feira em Mirandela. Por isso a automotora ia cheia. Numa estação a meio da linha, um senhor de idade entrou e sentou-se ao meu lado. Metemos conversa. É simples travar diálogo com os transmontanos. Basta ser-se simpático. António, assim se chamava o senhor, era de uma aldeia com apenas trinta habitantes. E, tal como me explicou, a sua aldeia e as outras que a linha do Tua serve, têm como único meio de transporte o comboio. Que anda sempre cheio. Disse-me ele. Não era só naquele dia em particular. Era também o meio de transporte para estudantes em Mirandela e para a maior parte das poucas pessoas empregadas naquela zona. "Se a linha fechar, estas aldeias aqui à volta morrem de vez", desabafou.”A minha só tem trinta habitantes agora. Quase todos velhos. Os jovens emigraram”, continuou. Percebi, nesse contacto, que me encontrava a viajar no coração de um país esquecido. Um país carregado de betão de auto-estrada, mas cujo distrito de Bragança que eu de comboio atravessava desta não tem um único quilómetro. Nestes meus pensamentos reparei que a paisagem começara a mudar. Os vales estavam a ficar mais aplanados. As margens do rio eram maiores. O calor sufocava ainda mais. Mirandela já se avistava no horizonte, terra no coração de Trás-os-Montes famosa pela sua gastronomia.

Ao sair da automotora tive logo um primeiro choque. Impressionou-me o estado degradado do bonito edifício da estação. Outrora sítio tão importante para a cidade, marginalizado agora pelo abandono dos comboios. Aqui é hoje o terminus da linha do Tua. Antes esta continuava até Bragança. Cidade do meu destino nesse dia…

continua

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Tom Sawyer

Acabei agora a leitura do Tom Sawyer, famosa obra para a juventude de Mark Twain. Tive que tardiamente cumprir este acto de meninice. Que bem que soube ser transportado, pela escrita de Twain, para um outro tempo e para as livres paisagens do Mississipi. Sentir-me também uma criança travessa que age seguindo a sua imaginação, sem se preocupar com o mundo dos adultos.

domingo, 5 de agosto de 2007

Crónica de um domingo ensonado


Edgar Degas - L'Absinthe - Musée d'Orsay, Paris


Está a ser pacífico este domingo dominado pelo sono. O café só me parece ter despertado para a boa exibição do Porto contra os chineses do Shanghai Shenhua, no torneio de Roterdão. Destaco a qualidade do passe da equipa dos dragões e, a nível individual, Tarik Sektioui. Pergunto-me onde no último ano andou escondido o marroquino. Foi o melhor em campo, com aguçados passes e excelente posicionamento. Excelente sentido táctico e técnico. Uma mais-valia para o plantel às ordens do professor Jesualdo.

Entretanto, Liverpool e Feyenoord já entraram em campo para o jogo final do torneio. Caso o Liverpool não vença, Porto conquista o troféu. Sempre bom começar a época a ganhar alguma coisa.

Olhando agora para a semana que passou, destaco o veto do Presidente da República ao novo estatuto dos jornalistas. Cavaco Silva compreendeu perfeitamente a falta de qualidade do diploma, além do perigo que podia advir, na sua aprovação, para o futuro do jornalismo em Portugal. É verdade que o jornalismo tem decrescido de qualidade entre nós. Não seria este estatuto a melhorar a situação. Pego num ponto essencial, questionado pelo Presidente - o dos "requisitos de capacidade para o exercício da profissão". Segundo o novo estatuto, podem ser jornalistas os cidadãos no pleno gozo dos seus direitos civis que detenham uma habilitação académica de nível superior (art. 2º). É duvidoso este artigo e até discriminatório. Muitas vezes, uma habilitação superior não quer dizer qualidade. Segundo, muitos jornalistas do passado não precisaram, para terem qualidade, de habilitações académicas de relevo. Recordo um exemplo - José Saramago. O escritor não precisou de ter curso superior para ser jornalista do Diário de Notícias durante vários anos, e nem sequer precisou dele para ganhar o Nobel. Ainda num passado recente, ser jornalista era uma nobre profissão em que o que se pedia aos seus aspirantes era curiosidade e humanismo. Curiosidade por saber o porquê das coisas, dos acontecimentos. Humanismo para tratar as coisas e acontecimentos da forma justa. As grandes escolas de jornalismo eram então as redacções em estado puro. Os locais onde por vezes os jornais se faziam por si, onde uma equipa variada todos os dias um pouco de história percebia e escrevia. Do chefe de redacção ao jornalista, passando pelo revisor e pelo impressor, todos os dias podiam ser uma aventura.

Hoje, a maior parte dos jornalistas profissionais têm qualificações académicas em cursos superiores de jornalismo. Para além disso, os jornais e revistas são controlados por grandes grupos empresariais ávidos de lucro. O que acontece quando estes dois ingredientes se juntam? Um baixar de qualidade no jornalismo actual. Os cursos de comunicação formatam os seus alunos para escreverem de uma maneira que não permite a criatividade. Sobrecarregados com trabalhos inúteis, mal têm tempo para compreender a realidade à sua volta, algo essencial para se ser jornalista profissional. E depois, ouvem em conferências os inteligentes que, parafraseando Martin Luther King, dizem que "têm um sonho, que um dia todos os jornalistas sejam licenciados em comunicação social" (Nelson Traquina). Não duvido que ao chegar esse dia, o jornalismo esteja bem morto (uma vez escrevi, e aqui torno a escrever, que não tenho espírito de coveiro...).

O exercício do jornalismo é algo que vem de dentro de cada um. É o gosto pela escrita. o gosto pela descoberta e o ser curioso que motivam o abraçar a profissão. E é por isso que, por vezes, jornais universitários sem pretensões fora das quatro paredes das faculdades acabam por ter uma boa qualidade. Caso, por exemplo, do Tribuna.

Outro destaque desta semana é a saída (há quem prefira o termo "expulsão") de Dalila Rodrigues da direcção do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA). Motivo: criticou demais. A verdade é que, quando a crítica é construtiva, quando apenas se pretende opinar sobre o melhor para a instituição onde se está a exercer funções, esta deve ser considerada. O caso de Dalila Rodrigues é mais um erro do actual governo, que depois do caso Charrua ou da demissão de Piemonte da ópera do São Carlos, devia ter o máximo cuidado nas suas atitudes para que a sua imagem não se descridibilize.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

PT no seu melhor

Indigna-se a PT da multa aplicada pela Autoridade da Concorrência! Bufa de seus brados empresa monopolista. Faz soar a sua revolta:

O presidente da Portugal Telecom, Henrique Granadeiro, anunciou hoje que a empresa vai recorrer aos tribunais da multa de 38 milhões de euros aplicada pela Autoridade da Concorrência, devido à recusa da incumbente em permitir a utilização das condutas de telecomunicações aos concorrentes TvTel e Cabovisão.

Henrique Granadeiro considera que a coima da AC é "inexplicável e despropositada" e que "caberá aos tribunais fazer justiça" neste processo.

in Público

Como é hipócrita a PT! Estou a aturá-la desde sempre em minha casa porque não deixa aqui na minha rua que a TvTel chegue devido aos seus preciosos cabos e condutas. Querem ver que são de ouro? É preciso ter lata...