terça-feira, 10 de julho de 2007

Clint Eastwood, o último clássico

Qual é o realizador americano que consegue fazer filmes com histórias que parecem simples, mas que ao mesmo tempo são de uma complexidade surpreendentes e com personagens marcantes? A resposta é Clint Eastwood.
Conhecido até aos anos 90 pelas personagens do "no name cowboy" dos westerns spaghetti de Sergio Leone (que saudades de ver o meu filme preferido... Once upon a time in America) ou do "fascistóide" Dirty Harry, Eastwood "cresceu bem" e começou a realizar filmes de qualidade inegável. O primeiro filme de vulto, vencedor da noite dos Óscares de 1993, foi Unforgiven, espécie de requiem dos westerns. Depois realizou mais alguns bons filmes(The bridges of Madison County, por exemplo), mas que não tinham grande brilhantismo.
Mas a confirmação de Eastwood como grande realizador chegaria nesta década. Mystic River chamou a atenção... Mas o milagre aconteceu com Million Dollar Baby. Nunca tinha entrado num cinema com tão poucas expectativas. Nunca tinha saído de um cinema tão abalado. MDB condensava todos os temas da velha Hollywood clássica. John Ford, Howard Hawks, entre outros realizadores, tinham nesse filme uma suprema homenagem, um supremo continuador. Quer pelo formalismo cinematográfico (o modo como as sequências mostram as reacções para além do que se vê), quer pela temática e força das personagens. Como nos filmes dos grandes realizadores clássicos, o mais importante de MDB não é o que se vê mas o que se pressente (os filmes para além do visível... para mais informações leia-se uma crítica por nós escrita após vermos o filme, que em breve será objecto de reanálise).
Este fim-de-semana tive a oportunidade de ver em DVD, seguidamente, os dois últimos filmes de Clint Eastwood: Flags of our fathers e Letters from Iwo Jima (este último já visto no cinema). Obras que confirmam a grandeza de Eastwood (talvez mais Letters... do que Flags...). Só um grande realizador sabe "construir" grandes filmes de guerra. Porque nestes filmes, o que menos importa são as cenas de acção. Importam as acções das personagens perantes os cenários marcantes. Importa saber usar a violência nunca de uma forma gratuita mas institiva para o esopectador. Atente-se na descoberta do cadáver do soldado Iggy por Doc. Nunca vemos o corpo - curioso, aliás, o plano subjectivo do morto - mas apercebemo-nos da morte trágica que teve pela reacção do seu colega vivo.
E depois, o uso da fotografia e da sonoplastia são excepcionais. Se Flags... é um filme em tons de azul, Letters usa mais os castanhos. Os dois filmes contrastam assim a vários níveis. Além de que é fantástico como um realizador americano consegue mostrar a humanidade do outro lado da barricada (os japoneses odiados em Flags...), em Letters... Só o último dos realizadores clássicos o poderia ter feito: Clint Eastwood.

Um comentário:

White Castle disse...
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