terça-feira, 31 de julho de 2007

Michelangelo Antonioni 1912-2007

Ainda o mundo do cinema está de luto com o desaparecimento de Bergman quando é recebida a notícia de mais um trágico desaparecimento: Michelangelo Antonioni. O cinema perde mais um grande mestre.

Descoberta de um novo Ministério

Ao pesquisar sobre o futuro museu ferroviário do Entroncamento, deparei-me no Portal do Governo com uma descoberta sensacional: a de que existe um Ministério das Obras Púbicas!

O Ministério das Obras Púbicas, Transportes e Comunicações pôs em marcha a criação do Museu Ferroviário, ao apresentar o projecto no dia do 59º aniversário do município do Entroncamento.

Arnaldo Saraiva tem um texto de espírito humorístico sobre a gralha tipográfica, no seu livro Literatura Marginalizada. Nele dá vários exemplos de gralhas passadas, como a dos "colchões" Molaflex ou do "acidente na estrada dos carvalhos" (peço ao leitor para adivinhar as gralhas, este é um blog que prima pela boa educação). Certamente, se tivesse conhecimento desta gralha teria-a dado como exemplo.

Site de fotografias de comboios

Tal como existem "maluquinhos" cujo passatempo é fotograr aviões, também existem aqueles que se "divertem" a tirar fotos a comboios. O Railfaneurope.net disponibiliza uma imensa colecção de galerias fotográficas sobre comboios. Nela perco muitas horas, confesso.
Aconselho a visualização das fotos dos comboios portugueses. Muitos deles já não circulam...

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Ingmar Bergman

A tarde de hoje já adiantada ia quando ligo o rádio e ouço as notícias. Não me interessaram as primeiras. Mas a última feriu-me. Anunciava a morte de Ingmar Bergman, um dos meus realizadores favoritos. Por momentos, fiquei aturdido. Depois, durante o resto da tarde, prestei-lhe uma íntima homenagem - recordei-me dos seus filmes.

Recordei-me do filme de Bergman que mais recentemente revi: Morangos Silvestres. Senti a doçura das imagens que mostram o velho médico no caminho para a sua consagração académica, mas cuja viagem para Estocolmo é um ajuste de constas com a vida, uma "descida" ao seu interior, ao que ficou por resolver.

Recordei essa obra metafísica incrivelmente fantástica que é O Sétimo Selo. A estória de um cavaleiro que regressa da peregrinação aos lugares santos e que encontra, quase a chegar a casa, a morte. E lembrei-me do desafio que este lhe propõe: jogar uma partida de xadrez com ela.

Recordei a obra-prima de Bergman, o seu filme-súmula de toda uma carreira: Fanny e Alexandre. Uma estória pessoal sobre a infância de duas crianças, sobre uma família e os seus problemas, sobre o Teatro, a grande paixão de Bergman...

E recordei as imagens que me povoam o imaginário, de filmes como Sorrisos de uma noite de Verão, Persona, A flauta mágica (mágico olhar de Bergman sobre a peça de Mozart). Pensei também em Saraband, sua última obra. Surgida quando se julgava já impossível ver algo novo de Bergman.

Hoje sinto que o cinema está mais pobre. Que o vazio de génios se acentua. Quem resta para procurar novas imagens neste deserto de imagens que nós vivemos? Godard em França, talvez. Oliveira entre nós. Pelos EUA Clint Eastwood e Woody Allen. Mas todos eles envelhecem. O vazio acentua-se cada vez mais...

Dossier do Público sobre Bergman

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Estatísticas do PNR

Como adenda à parte do post sobre as eleições de Lisboa, aqui ficam uns dados que julgo serem relevantes sobre o PNR:

Nas eleições Legislativas de 20 de Fevereiro de 2005 o PNR conseguiu, num universo de 352592 votantes 713 votos. Nas eleições intercalares para a Câmara deste mês, num universo de 196041 votantes, conseguiu 1501 votos. Portanto, uma subida de mais de 100% se não estou em erro. E com metade dos votantes. Procupante!
Não podemos, em democracia, estar desatentos ao crescimento de pequenos movimentos extremistas que desrespeitam as bases do nosso sistema político. Devemos procurar desde já o porquê de influenciarem, só na cidade de Lisboa, mais de um milhar de cidadãos. Antes que seja tarde!

terça-feira, 24 de julho de 2007

De volta

Leitor casual que por este blog passas, certamente achaste estranho o meu desaparecimento durante uma semana. "Se calhar está a estudar para exames". "Talvez esteja de férias" - devem ter alguns de vós pensado. Mas não. O meu silêncio do mundo da blogosfera deveu-se à ineficácia da PT, dona da Netcabo, empresa monopolista da comunicação. De facto - e é trágico afirmar isto - não tenho alternativa aos serviços da Netcabo e Tv cabo na minha rua. Se tivesse, há muito que o contrato que me liga a esta empresa teria sido rasgado.
Infelizmente, estive quase uma semana sem Net nem TV. Isto porque, aqui na minha rua, estão a construir mais um prédio (que vai descaracterizar esta cidade, mas os meus comentários sobre urbanismo ficam para mais tarde). Para derrubarem o velho edifício que se encontrava no local de construção, os trabalhadores tiveram que cortar os cabos que me forneciam a net, a tv, e o telefone ao resto dos vizinhos. Culpa deles pensava eu ao início. Mas rapidamente percebi que não era. Desde há 3 meses que a empresa de contrução civil responsável pela obra mandava faxes à PT para que viesse resolver a situação antes das obras avançarem. Ignoraram-nos. Para não atrasarem mais a obra, e não aumentarem o prejuízo, tiveram que ir em frente e arrancar os cabos para fazerem a demolição do edifício. Podiam, talvez, ter avisado a vizinhança. Mas não vou entrar por aqui.
O que se passou a seguir foi digno de um país de terceiro mundo. Dezenas de euros gastos em telefonemas para a assistência técnica da TVCabo, porque tem um número 707. Várias visitas de técnicos de empresas subcontratadas pela PT para perceberem o problema. Por mais claros que fôssemos ao telefone, não compreendiam que o problema era exterior à nossa casa. Só depois de muito latim gasto e de ameaças do corte do pagamento, é que a PT se dignou, provisoriamente, a resolver o problema. E aqui estou de volta à net até que essa maravilhosa empresa se lembre que me posso viciar na net e na TV para, com maternal preocupação, deixar que me cortem mais uma vez o serviço de Cabo. Obrigado pela procupação PT!

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Rápidas considerações sobre as eleições de Lisboa

Apurados os resultados das eleições intercalares para a câmara de Lisboa, é possível retirar destes algumas conclusões:

- Nem as férias, nem o calor, nem outra desculpa justificam a elevada abstenção, na ordem dos 60%. Os portugueses cansam-se do modo de fazer política em Portugal, ou cada vez menos há uma educação para a democracia e para o exercício de cidadania consagrado no direito ao voto?

- Fraco resultado para o Partido Socialista. Apesar de se poder de gabar de pela primeira vez na história o PS ter vencido a câmara da capital sem coligação, estar abaixo dos 30 % é um resultado pouco honroso para o PS. António Costa, adivinha-se, não terá grande margem de manobra para medidas de fundo nos próximos dois anos. O que poderá fazer é mostrar-se empenhado para poder melhorar a performance eleitoral daqui a dois anos. Afinal, a Câmara da capital é um óptimo trampolim para vôos mais altos. Que o diga Jorge Sampaio, que saltou da Câmara para a presidência da república.

- Desgraça na direita portuguesa. PSD atinge um resultado muito negativo para o historial do partido. Fernando Negrão apareceu na campanha demasiado sozinho, e sem o discurso adequado para conquistar um eleitorado que há dois anos deu a vitória a Carmona, candidato do PSD. Por sua vez, o CDS-PP afunda-se sem conseguir eleger um único vereador. Paulo Portas fez a pior jogada da sua (até conseguida, reconheça-se) carreira política. A sua ansiedade em voltar à ribalta acaba por o colar à figura de Telmo Correia. E as tristes cenas a que se assistem pelos media no seio do partido popular (recorde-se a "estória" das agressões a Maria José Nogueira Pinto) acabam por fragilizar um partido cada vez mais sem ideias.

- Honra aos independentes. A moda pegou. Ser independente dos partidos acaba por compensar. Parte da população, cada vez mais cansada de demagogias partidárias, vira-se para aqueles que parecem lutar contra estes. As candidaturas de Carmona Rodrigues (em 2º lugar) e de Helena Roseta (4º lugar) acabam por ser as grandes vencedoras da noite eleitoral. Mas cuidado. Desprovidos da imagem de um partido os próximos dois anos podem ser difíceis para reforçar uma candidatura em 2009.

- Mantêm-se os partidos de esquerda na câmara. A CDU e o BE mantêm o seu eleitorado. Porém, nota-se uma ligeira quebra do Bloco junto do eleitorado. Talvez a eleição de Sá Fernandes seja mais à custa da sua imagem de "político corajoso" do que candidato bloquista. O tempo dirá se o bloco conseguirá manter os bons resultados nas próximas eleições. Na minha opinião, os 8 deputados que elegeu nas últimas legislativas foi um milagre que dificilmente se repetirá... ou talvez não.

- Cuidado com a extrema-direita. 1501 votos no PNR são bastantes, para mim, que detesto a extrema-direita, para deixar no ar uma certa preocupação com o ressurgimento de movimentos xenófobos. Após a polémica com uma lista de extrema-direita para as eleições para uma AE numa faculdade de Lisboa, toda a atenção é pouca. Cuidado com a interpretação da Constituição que proíbe associações de carácter "fascista". É que este termo caíu em desuso, e pode ser facilmente contornável. E a interpretação desta norma deve ser o mais abrangente possível. Apesar de serem poucos, o número de votos aumenta significativamente. Junto dos jovens. Junto dos desempregados. Atenção, que o futuro pode trazer dissabores.

"Pergunto eu: o que significa essa lealdade ao partido?" -> questão colocada pela White Castle no seu blog Branco Preto e Vermelho. Julgo que é a mim dirigida, após algumas saudáveis discussões que tivemos sobre o tema. Já estou a pensar na resposta. Fica para um próximo post, devido ao adiantado da hora.

sábado, 14 de julho de 2007

Site sobre a linha do Tua

Muito bom o site que, por acaso, encontrei no imenso mundo da Internet sobre a linha do Tua. Mantido pelo Movimento Cívico pela Linha do Tua, o site alerta para o grave problema do transporte feroviário na região de Trás-os Montes. Como é do conhecimento geral, até aos finais da década de 80 as principais linhas que serviam a região foram amputadas na sua extensão. A linha do Douro perdeu a sua ligação a Barca de Alva. A do Corgo a ligação de Vila Real a Chaves. E a do Tua, à qual é dedicado o site, a ligação entre Mirandela e Bragança (capital do Distrito).
Esta desatenção do poder central para a região de Bragança só veio agravar os problemas económicos e sociais que se vive no interior da região: desertificação, perda de capital, esquecimento, etc.
Além disso, o desaproveitamento destas linhas para o turismo é uma falha grave! São percursos ferroviários únicos, de uma espectacularidade arrasadora. Era uma experiência inesquecível viajar na Linha do Tua antes do acidente ocorrido este ano. De tal modo que em roteiros ferroviários internacionais foi dada pontuação máxima a esta linha, sendo inclusivamente comparada às famosas linhas transalpinas.
Infelizmente, julgo que o acidente ocorrido este ano com uma automotora ditou o fim da Linha do Tua. As desculpas, lá em baixo em Lisboa, começam a ser preparadas. Os prazos para a abertura do concurso de intervenção na linha alongados por demasiado tempo. Afinal, a REFER já deu sinais de que as três linhas de via estreita do Douro têm destino comum à do Sabor: o encerramento definitivo. E assim o país fica mais pobre. Em o interior subaproveitado.

Site - http://www.linhadotua.net/3w/index.php

Uma moeda cada vez mais forte

Acabo se saber. Chipre e Malta aderem ao Euro a partir de um de janeiro do próximo ano. Menos dois destinos em que se têm que praticar taxas de câmbio, e sinal do fortalecimento da moeda oficial da UE.
Ainda bem que os pequenos países da União dão exemplos aos grandes, que arrogantemente continuam a não adoptar a moeda única - Grã-Bretanha e Suécia.

mais informações - site da comissão europeia

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Porto a preto e branco - porque as coisas belas devem ser partilhadas


Não é minha a fotografia. Um familiar passou-ma e também não sabe quem é o autor. No entanto, como a acho de uma beleza extraordinária (fantástico os contraste a negro que se desdencadeiam desde a torre dos clérigos até ao fundo de 31 de Janeiro) sinto meu dever dá-la a conhecer. Se o autor desta foto passar alguma vez por este modesto espaço, que me perdoe. Apenas quis mostrar o seu fantástico olhar sobre a minha cidade. E a inveja por não ter sido eu a tirar a foto...

Os comboios da minha alma

Quando o verão chega e por demasiado tempo o corpo vagueia sempre pelos mesmos locais, sinto na alma a necessidade da partida, o apito sibilino dos comboios . Sinto falta de subir o Douro nas velhas automotoras Allan, de me perder à borda da suja janela de encantos pelo rio que banha no seu fim a minha cidade. Sinto necessidade de descobrir novas linhas, de subir para além de Castelo Branco pela serra da Gardunha fora. Sinto curiosidade em fazer esses pequenos ramais oitocentistas esquecidos pelo tempo e por isso cheios de encantos e memórias
O calor aperta. A estação ferroviária surge-me como uma tentação de fuga. Conto no bolso os trocos e procuro o necessário dinheiro para o bilhete no primeiro comboio.
Mas ainda não é tempo de partir. Terei que aguentar mais um pouco.

Em breve Crónicas de viagens passadas

terça-feira, 10 de julho de 2007

Clint Eastwood, o último clássico

Qual é o realizador americano que consegue fazer filmes com histórias que parecem simples, mas que ao mesmo tempo são de uma complexidade surpreendentes e com personagens marcantes? A resposta é Clint Eastwood.
Conhecido até aos anos 90 pelas personagens do "no name cowboy" dos westerns spaghetti de Sergio Leone (que saudades de ver o meu filme preferido... Once upon a time in America) ou do "fascistóide" Dirty Harry, Eastwood "cresceu bem" e começou a realizar filmes de qualidade inegável. O primeiro filme de vulto, vencedor da noite dos Óscares de 1993, foi Unforgiven, espécie de requiem dos westerns. Depois realizou mais alguns bons filmes(The bridges of Madison County, por exemplo), mas que não tinham grande brilhantismo.
Mas a confirmação de Eastwood como grande realizador chegaria nesta década. Mystic River chamou a atenção... Mas o milagre aconteceu com Million Dollar Baby. Nunca tinha entrado num cinema com tão poucas expectativas. Nunca tinha saído de um cinema tão abalado. MDB condensava todos os temas da velha Hollywood clássica. John Ford, Howard Hawks, entre outros realizadores, tinham nesse filme uma suprema homenagem, um supremo continuador. Quer pelo formalismo cinematográfico (o modo como as sequências mostram as reacções para além do que se vê), quer pela temática e força das personagens. Como nos filmes dos grandes realizadores clássicos, o mais importante de MDB não é o que se vê mas o que se pressente (os filmes para além do visível... para mais informações leia-se uma crítica por nós escrita após vermos o filme, que em breve será objecto de reanálise).
Este fim-de-semana tive a oportunidade de ver em DVD, seguidamente, os dois últimos filmes de Clint Eastwood: Flags of our fathers e Letters from Iwo Jima (este último já visto no cinema). Obras que confirmam a grandeza de Eastwood (talvez mais Letters... do que Flags...). Só um grande realizador sabe "construir" grandes filmes de guerra. Porque nestes filmes, o que menos importa são as cenas de acção. Importam as acções das personagens perantes os cenários marcantes. Importa saber usar a violência nunca de uma forma gratuita mas institiva para o esopectador. Atente-se na descoberta do cadáver do soldado Iggy por Doc. Nunca vemos o corpo - curioso, aliás, o plano subjectivo do morto - mas apercebemo-nos da morte trágica que teve pela reacção do seu colega vivo.
E depois, o uso da fotografia e da sonoplastia são excepcionais. Se Flags... é um filme em tons de azul, Letters usa mais os castanhos. Os dois filmes contrastam assim a vários níveis. Além de que é fantástico como um realizador americano consegue mostrar a humanidade do outro lado da barricada (os japoneses odiados em Flags...), em Letters... Só o último dos realizadores clássicos o poderia ter feito: Clint Eastwood.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

O prazer de ler uma reportagem...

Agora que o jornalismo em Portugal se encontra pior do que nunca, agora que o Público, após a sua "reformulação", deixou de ser um bom jornal, por vezes ainda somos brindados com bons trabalhos de reportagem (para mim uma das essências do jornalismo).
Refiro-me à reportagem que hoje o Jornal de Notícias nos apresenta, em colaboração com a lusa, sobre uma família cigana nómada na zona do Alentejo: Nómadas à força.
Não sendo uma reportagem de fundo, e podendo até ser um pouco mais literária, sempre dá para nos apercebermos da realidade diária de uma família cigana que anda de terra em terra em busca de um lar, sofrendo de mil privações e estando marginalizada pela sociedade.
Quem diria que o JN acabaria por ter, em certos dias, amis qualidade do que o Público, jornal que agora leio em pouco tempo, e que no passado me tomava conta de tardes inteiras.

E política? Isso não se discute?

Começo pela confissão de interesses: as eleições intercalares lá em baixo em Lisboa interessam-me zero. Não porque não goste da cidade de Lisboa (sublinhe-se a expressão cidade), mas porque, precisamente, não se trata da urbe onde vivo. Já me basta ter que me preocupar diariamente com a gestão arrogante do presidente da minha autarquia...
Mesmo assim, a comunicação social gosta tanto da capital que é impossível ao desinteressado escapar a notícias sobre a campanha alfacinha. Ora é o telejornal que abre com a visita ao mercado... (ups, já não me lembro do nome... para mim mercados só o do Bolhão e o do Bom Sucesso) de três candidatos, ora é o jornal que tem nas primeiras páginas uma entrevista cheia de boas intenções de um dos não-sei-quantos pretendentes à cadeira de autarca da capital.
Ora, do que pouco leio e tenho visto nos media, a campanha tem tido vários matérias em discussão. Falta, no entanto, uma coisa... a discussão política. Porque, como leio no Público online, ou é pedidos de demissão de apoiantes de uma candidatura, ou é um candidato que se julga ultrajado por um líder partidário fazer uma acusação infundada sobre os futuros terrenos da Portela, ou é um ferrenho "portista" (atenção às aspas, não vá o sentido confundir-se...) que se faz de vítima e que pelas últimas sondagens vê a sua eleição como vereador "por um canudo".
Enfim, lá por baixo há de tudo menos política.
Curioso, sempre que penso em eleições em Lisboa recordo-me da noite eleitoral das últimas autárquicas, em que o principal derrotado, Manuel Maria Carrilho, no seu discurso de derrota afirmou que tinha perdido a única candidatura que apresentara ideias e projectos concretos para a cidade, e muito por culpa da comunicação social. Com todo este circo, e com a necessidade de eleições intercalares, como eu dou razão a Carrilho...

domingo, 8 de julho de 2007

Domingo

O domingo é este dia aborrecido em que Deus está a descansar do seu acto criador (apesar de cá por mim ser sinal de preguiça!) e onde as horas e os minutos amolecem as almas. O espírito caseiro do domingo contagia-me de nihilismo. Nada apetece fazer neste dia preguiçoso que amolece a vontade. Penso no domingo e lembro-me do quadro de Salvador Dalí de nome A persistência da memória. Os relógios derretidos no "deserto" são como as horas e os minutos deste dia que parece não ter fim...
Pelo menos amanhã, segunda-feira, já não me poderei queixar de falta de motivos de distracção, se os houver...

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Invasão chinesa?

Joey Berardo (coleccionador de arte e de indelicadezas) que se cuide! Estava ele todo sossegado a sonhar adquirir o Benfica quando um grupo de investidores chineses parece estar a surgir, também interessado em lançar uma OPA sobre os encarnados.
A notícia pode ser lida no Público online:

Um grupo chinês está a estudar o lançamento de uma OPA sobre a Benfica SAD, numa iniciativa concorrente à operação registada hoje por Joe Berardo, estando disponível para oferecer o dobro da contrapartida proposta pelo empresário madeirense, noticiou o “Diário Económico” online.

Que azar Berardo! Tinhas logo que levar em cima com este sinal dos tempos que é a abertura do mercado desportivo português ao interesse estrangeiro. O capital já não conhece fronteiras. E os chineses estão cada vez mais fortes. Daqui a uns tempos ainda nos arriscamos a ver os encarnados de olhos em bico...

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Locais do Porto - Estádio do Dragão com memória para as velhas Antas

Há mais de um mês que não passava pelo "Dragão". Um estádio que, pela sua peculiaridade e beleza, conquistou os corações dos adeptos portistas e dos amantes da arquitectura. O Dragão, que teve um parto difícil (recordem-se as confusões provocadas por Rui Rio por causa do PDA das Antas e da defesa dos pequenos comerciantes), tornou-se um símbolo da cidade (apesar de haver quem não o reconheça) e da moderna arquitectura que nesta desponta (lembramo-nos da Casa da Música, do Museu de Serralves, entre outros edifícios).

Acompanhei o nascimento do novo estádio do FC Porto. Desde os primeiros projectos até à inauguração. Recordo-me de dois antes de ser lançada a primeira pedra, caminhar até aos velhos parques de estacionamento, por trás dos campos de treino do FC Porto, e ver o sítio onde em menos de 48 horas os bulldozers começariam as escavações daquele terreno difícil. Estávamos em 2001, se não me engano. A partir daí, sempre que às Antas ia ver os jogos, espreitava lá para baixo, para ver se o novo palco de sonhos ganhava formas. Ou então, quando ia pagar as quotas (sempre atrasadas...), espreitava pela varanda da arquibancada (onde sempre se via melhor) o horizonte, a evolução das obras.
Quando estava para ser inaugurado o novo estádio, colocou-se o problema do nome a dar ao novo palco do clube. Durante muito tempo julgou-se que seria, na mesma, "Antas" ou "Novo Estádio das Antas". Pinto da Costa chamou-lhe "Dragão". Várias vozes se levantaram contra. Miguel Sousa Tavares, num dos seus inflamados artigos de opinião, bradou aos céus (o que é sempre de esperar da sua parte) afirmando que o nome estava mal escolhido, e que devia ser "Estádio dos Dragões" para representar todo o universo de adeptos portistas. Outro sentimento que percorria as gentes da Invicta era a de que nunca se desabituariam de chamar à casa do FC Porto "Antas". Até pela força de expressão que para milhares de pessoas a frase "bou às Antas", proferida domingo sim domingo não, significava. Eu próprio julgava, naquele histórico ano de 2003, que jamais conseguiria trocar a castiça frase dos adeptos do Porto pela fria frase "vou ao Dragão".
Quatro anos depois o Dragão ganhou estatuto próprio. O moderno palco das emoções ganhou o carinho e admiração dos adeptos. Talvez porque a transição de um estádio para o outro foi perfeita: conquista da Liga dos Campeões nos dois estádios. Chegada da taça numa manhã de profunda emoção e alegria ao novo estádio. E porque... bem, porque as Antas serão sempre o antigo estádio. No bom sentido. Um estádio talvez feio, inseguro para a quantidade de adeptos que acolhia. Mas, ao mesmo tempo, mais humano.
Nasci numa altura em que as Antas decaíam para a velhice. Uma manutenção ali ou cadeiras novas não escondiam as precárias condições do estádio. Aí se ganhavam dores de costas, gripes. Por baixo das cadeiras passavam goteiras. Nos dias de chuva – que foram muitos – era desconfortável ir às Antas. E no entanto, aquele estádio sempre foi um símbolo. De algo grandioso. Ainda pequenino via o estádio como um local onde se passavam fábulas. O magnetismo provocado pela sua imagem era imensa. Situação que me perseguiu sempre. Não me cansei, quase até aos últimos dias do estádio, de ouvir contar as histórias de familiares e amigos que iam a jogos no estádio. Imaginava, sentado na velha sul ou na norte, os momentos de glória que eles ali haviam passado. Olhava para a bancada maratona e imaginava a sua inexistência, quando aí havia o peão. As Antas preexistiam a nós. Éramos os herdeiros daqueles que inauguraram o recinto. Imaginava a Taça dos Campeões de 87 a chegar ali pelas mãos do João Pinto. Imaginava grandes jogos passados. Os jogos europeus, que serviram para a equipa conquistar o seu espaço numa Europa futebolisticamente cosmopolita. Os derbys que fizeram do Porto o grande clube do último quarto de século em Portugal. Não vivi esses momentos com consciência plena. Mas sentia-os em cada ida ao estádio. Em cada grito de golo que punha roucas as gargantas dos adeptos.
Não fui a tempo de ver o nascimento, nas Antas, da grandeza do FC Porto. Mas tive a sorte de ver a sua confirmação. Não vivi a noite de Viena (disseram-me que dormi bem apesar do barulho efervescente da cidade louca de alegria), mas vivi Sevilha. A noite mágica em que um troféu europeu veio para casa. A chegada dos jogadores fez-me também ter uma primeira história de glória desportiva para contar. História que teve as Antas como grande parte do cenário. Mas esta já era o fim de um capítulo de ouro. Ali ao lado o Dragão estava quase completado na sua forma.
Mas às vezes, quando como hoje passo pelo Dragão, sinto uma espécie de saudade dos tempos em que ia às Antas ver jogos ou passear. Recordo-me dos "velhotes" a jogarem cartas no espaço da arquibancada. Do local de estacionamento do jogadores, onde ao fim de cada treino os jovens adeptos lhes faziam uma espera para o ansiado autógrafo. Recordo-me da porta 10 estar quase sempre aberta para que o visitante pudesse ver o palco onde os artistas da bola aos domingos faziam a sua magia. Tudo era mais vivo, mais caloroso.
Hoje o Dragão é o símbolo de força de um clube que contra tudo e todos conquistou um lugar no Olimpo do futebol. Pode ser o mais moderno estádio do mundo. O melhor talvez. Mas a grandeza do FC Porto foi quase toda forjada nas Antas. Em cada passagem por aquela zona, levamos em nós o velho estádio. Ele continuará “vivo” connosco. Para sempre...


PS - Aqui pode ser lida uma belíssima reportagem recheada de memórias sobre as Antas.

Post número 1 - Razão de ser de (mais) um blog

Desde há bastante tempo que sentia a necessidade de criar um blog sem grandes procupações formais, onde pudesse falar de todos os meus interesses. Este blog que agora começa surge de um processo de amadurecimento mental. Surge, ainda, passado o tempo suficiente de ter experimentado um saboroso renascimento de velhas ideias. De me ter libertado de um pesado jugo que transformou o meu modo de escrever e de pensar.
Para além disso, sentia que o meu velho blog, activo há mais de quatro anos, se transformara num blog demasiado literário e tortuoso. Custava-me, num blog onde experimentara processos de construção frásica elaborados, onde procurara por vezes musicalidades novas (sem ter quase nunca conseguido, refira-se), ao mesmo tempo "postar" textos políticos, desportivos, sobre impressões do dia-a-dia, etc. Fazer recortes de imprensa e comentar, nem que fosse o comentário banal e sem grande opinião formada. O Ideias e Pensamento acabou por se tornar uma espécie de ditador da minha escrita. Nele as imagens, tão importantes na Internet, desapareceram por completo. Por causa disto tudo, a minha assiduidade de escrita descurou-se. Largos meses se passaram sem ter colocado um texto no mundo blogosférico. A experiência da literatura acaba por ser, para mim, bastante turtuosa. Quantos textos se encontram nas minhas gavetas, começados e não acabados. Desisti deles? Por certo ainda não. Tenho a esperança que eles e eu amadureçamos e mais tarde brotemos com novas ideias para os completar.
Por causa disso, o Ideias e Pensamento não acaba. Será, por assim dizer e passe a presunção, o meu blog literário. O possível leitor que por ele continue a passar. Talvez lhe estejam reservadas algumas surpresas.
Em resumo. O Instinto da Acção nasce da necessidade de escrever sobre tudo e nada. De me libertar da literatura. De dar opinião. Confesso que sempre julguei que a blogosfera passaria um dia de moda. Enganei-me, reconheço. Não só nela despontam cada vez mais interessantes blogs, como se tornou num espaço importante de opinião e debate. Veja-se, por exemplo, a publicação diária de "recortes" blogosféricos nos principais diários portugueses. Atente-se aos casos públicos que os blogs despoletaram como temas da actualidade (o mais recente, sem dúvida, o da licenciatura do nosso Primeiro-Ministro). Naturalmente que ela também passou por um processo de selecção natural, algo que eu não previ num texto que em 2003 publiquei no Ideias sobre a blogosfera. Confesso o meu espanto hoje. E prometerei, também, dar notícia neste espaço que agora arranca de blogs e sites por mim visitados e que julgo merecerem atenção.

Instinto da Acção. Porquê este nome? Para começar, a ideia deste blog surge numa altura em que, mais uma vez, O livro do desassossego de Fernando Pessoa/Bernardo Soares volta a "descansar" na minha mesa de cabeceira. É nele que está uma das frases que mais me impressionaram nas minhas leituras: «A fé é o instinto da acção». Num livro-romance-manual de sonhos em que um semi-heterónimo desse homem plural anda estaticamente perdido na baixa lisboeta dos anos 20-30, ter uma máxima solitariamente fragmentária, sem contexto, em que afirma que a fé é o instinto da acção destoa. Ter fé? Mas em quê? Na possível acção a realizar? Então que a minha fé de criar um blog se concretize e, desta forma, a acção se torne realizável.
Assim, como se pode apreender, o nome do blog é uma homenagem directa a esse livro que me fascina desde sempre. E de que certamente vou dando notícia por aqui ao longo das minhas leituras.

Desde já o meu obrigado a quem tiver "pachorra" para ler os meus devaneios sobre os temas que eu gosto... Sobre a cidade do Porto (a minha cidade)... Sobre direito... Sobre comunicação (por enquanto)... sobre arte... Em poucas palavras: sobre tudo e sobre nada.