sábado, 25 de agosto de 2007

Para lá do fio do horizonte

Li agora no Público online: morreu Eduardo Prado Coelho, um dos mais brilhantes intelectuais portugueses. Com ele o vazio de comentadores e cronistas acentua-se, neste cada vez mais seco país. A sensação que me invade é a de vazio. Perdi um dos meus "professores". Durante anos, a sua crónica no Público - o "fio do horizonte" - era a primeira leitura da manhã (tinha o estranho hábito de ler os jornais de trás para a frente). Do futebol ao cinema, passando pelas últimas edições no mercado livreiro e pela política, Prado Coelho mostrava-se atento, de forma independente, séria e por vezes bem humorada (principalmente em relação ao futebol) ao que se passava à sua volta. Hoje isso acabou infelizmente.

Sai amanhã, no Público, a sua última crónica, escrita ontem a poucas horas do fim. Em jeito de homenagem, se eu fosse editor do jornal, amanhã colocaria essa crónica na primeira página. Seria justo.

Um comentário:

LEÃO DA ESTRELA disse...

Quando se diz que o Sporting é um clube das elites, isso também tem muito a ver com o facto de ter adeptos e simpatizantes intelectuais como EPC, sem pejo de assumir que gostam de futebol e que têm um clube. EPC não tinha preconceitos pseudo-intelectuais. Era capaz de escrever sobre o “nosso” Sporting e, mesmo assim, ser lido por quem detesta futebol. Porque quando escrevia sobre futebol abordava o fenómeno como uma pessoa normal, com coração, cabeça e estômago. Também por isso, sendo um homem assumidamente de esquerda, chegando, às vezes, a escrever como se de um “spin doctor” do PS se tratasse, era lido e respeitado em todos os quadrantes políticos. Desde a fundação do jornal “Público”, em 1990, EPC escrevia diariamente sobre as grandezas e as misérias da cultura, da política e da sociedade portuguesas, a partir dos episódios do quotidiano. Tinha amigos de estimação. E inimigos também. Como qualquer ser humano marcante e perene.