sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Crónica de viagens de comboio sonhadas e reais

Desde criança que o comboio é o meio de transporte que mais me fascina. A essa parte da minha vida – jardim poético do passado – estão intimamente ligadas as viagens de ida e volta ao Porto nas férias, quando vivia no interior do país. Estão ligados os passeios com o meu avô às estações das minhas duas cidades, onde passava a tarde a ver partir e chegar os comboios. E depois, também tive a sorte de encontrar um terceiro avô apaixonadíssimo por comboios (e tenho mesmo que recorrer ao superlativo) que me contava as viagens maravilhosas que fazia pelo país nesse seu terno meio de transporte. Foi com ele que pela primeira vez ouvi falar das linhas do Sabor, do Tua, do Corgo, do Vouga, entre tantas outras. Os seus relatos fascinavam-me e faziam-me viajar, também com ajuda das suas fotografias, por um país mágico. E sempre ansiei pelo dia em que me metesse a caminho para explorar as linhas desconhecidas. Poucas restam, estando amputadas na sua extensão e dignidade. Mas a vontade de conhecer o que restava era muita.


Há volta de um ano encontrava-me no Café Progresso, local de passagem habitual. Abri o antigo Público e li que a CP estava a ponderar, em breve, deixar de explorar as linhas de via estreita do Douro. Percebi que tinha chegado o momento de fazer a tão ansiada viagem. Não podia passar do Verão. Culpar-me-ia para sempre se tivesse deixado escapar esta oportunidade.

O Verão chegou. E com ele a tão ansiada viagem. Com um amigo parti pela linha do Douro acima, ainda o Sol se estava a mostrar timidamente no horizonte. Objectivo: linha do Tua. Apesar de tanto já saber por relatos e por fotografias dessa linha, a experiência vivida é melhor que mil imagens ou palavras. Após o transbordo, já na automotora verde que parte da estação do Tua rumo a Mirandela, espantei-me com a beleza natural da paisagem atravessada. Por meio de escarpas acidentadas e falésias o comboio seguia. Lá em baixo o rio Tua corria num ténue fio de água. Pouco verde havia nos montes. O castanho e o cinzento dominavam. E o comboio avançava naquela paisagem natural com sítios impossíveis ao homem de chegar. Por vezes parecia planar no precipício tão curta a berma onde os carris assentavam. Os túneis em curva de surpresa surgiam. E a cada saída destes, a paisagem parecia engrandecer. Ao cimo dos montes pequenas aldeias e casas isoladas se avistavam na outra margem. Por vezes também pequenas estações surgiam. Todas completamente ao abandono.

Era dia de feira em Mirandela. Por isso a automotora ia cheia. Numa estação a meio da linha, um senhor de idade entrou e sentou-se ao meu lado. Metemos conversa. É simples travar diálogo com os transmontanos. Basta ser-se simpático. António, assim se chamava o senhor, era de uma aldeia com apenas trinta habitantes. E, tal como me explicou, a sua aldeia e as outras que a linha do Tua serve, têm como único meio de transporte o comboio. Que anda sempre cheio. Disse-me ele. Não era só naquele dia em particular. Era também o meio de transporte para estudantes em Mirandela e para a maior parte das poucas pessoas empregadas naquela zona. "Se a linha fechar, estas aldeias aqui à volta morrem de vez", desabafou.”A minha só tem trinta habitantes agora. Quase todos velhos. Os jovens emigraram”, continuou. Percebi, nesse contacto, que me encontrava a viajar no coração de um país esquecido. Um país carregado de betão de auto-estrada, mas cujo distrito de Bragança que eu de comboio atravessava desta não tem um único quilómetro. Nestes meus pensamentos reparei que a paisagem começara a mudar. Os vales estavam a ficar mais aplanados. As margens do rio eram maiores. O calor sufocava ainda mais. Mirandela já se avistava no horizonte, terra no coração de Trás-os-Montes famosa pela sua gastronomia.

Ao sair da automotora tive logo um primeiro choque. Impressionou-me o estado degradado do bonito edifício da estação. Outrora sítio tão importante para a cidade, marginalizado agora pelo abandono dos comboios. Aqui é hoje o terminus da linha do Tua. Antes esta continuava até Bragança. Cidade do meu destino nesse dia…

continua

4 comentários:

Anônimo disse...

Ke Dizer??? Viagem Histórica; que ficará para sempre na minha memória.
O povo transmontano é, com o devido respeito ás gentes do POrto(onde nós nos incluímos), o mais fantástico de Portugal.A amabilidade eo Prazer pela vida dakelas gentes...sem palavras..

Next Stop: Alentejo :P

Anônimo disse...

Ke Dizer??? Viagem Histórica; que ficará para sempre na minha memória.
O povo transmontano é, com o devido respeito ás gentes do POrto(onde nós nos incluímos), o mais fantástico de Portugal.A amabilidade eo Prazer pela vida dakelas gentes...sem palavras..

Next Stop: Alentejo :P

Anônimo disse...

e MAIS!!! AS TRANSMONTANAS SÃO ROLIÇAS E BOAXXXZE..

White Castle disse...

será a tua proxima paragem Pocinho --» Foz Côa? Esperemos que sim ;)