Há volta de um ano encontrava-me no Café Progresso, local de passagem habitual. Abri o antigo Público e li que a CP estava a ponderar, em breve, deixar de explorar as linhas de via estreita do Douro. Percebi que tinha chegado o momento de fazer a tão ansiada viagem. Não podia passar do Verão. Culpar-me-ia para sempre se tivesse deixado escapar esta oportunidade.
O Verão chegou. E com ele a tão ansiada viagem. Com um amigo parti pela linha do Douro acima, ainda o Sol se estava a mostrar timidamente no horizonte. Objectivo: linha do Tua. Apesar de tanto já saber por relatos e por fotografias dessa linha, a experiência vivida é melhor que mil imagens ou palavras. Após o transbordo, já na automotora verde que parte da estação do Tua rumo a Mirandela, espantei-me com a beleza natural da paisagem atravessada. Por meio de escarpas acidentadas e falésias o comboio seguia. Lá em baixo o rio Tua corria num ténue fio de água. Pouco verde havia nos montes. O castanho e o cinzento dominavam. E o comboio avançava naquela paisagem natural com sítios impossíveis ao homem de chegar. Por vezes parecia planar no precipício tão curta a berma onde os carris assentavam. Os túneis em curva de surpresa surgiam. E a cada saída destes, a paisagem parecia engrandecer. Ao cimo dos montes pequenas aldeias e casas isoladas se avistavam na outra margem. Por vezes também pequenas estações surgiam. Todas completamente ao abandono.
Era dia de feira em Mirandela. Por isso a automotora ia cheia. Numa estação a meio da linha, um senhor de idade entrou e sentou-se ao meu lado. Metemos conversa. É simples travar diálogo com os transmontanos. Basta ser-se simpático. António, assim se chamava o senhor, era de uma aldeia com apenas trinta habitantes. E, tal como me explicou, a sua aldeia e as outras que a linha do Tua serve, têm como único meio de transporte o comboio. Que anda sempre cheio. Disse-me ele. Não era só naquele dia em particular. Era também o meio de transporte para estudantes em Mirandela e para a maior parte das poucas pessoas empregadas naquela zona. "Se a linha fechar, estas aldeias aqui à volta morrem de vez", desabafou.”A minha só tem trinta habitantes agora. Quase todos velhos. Os jovens emigraram”, continuou. Percebi, nesse contacto, que me encontrava a viajar no coração de um país esquecido. Um país carregado de betão de auto-estrada, mas cujo distrito de Bragança que eu de comboio atravessava desta não tem um único quilómetro. Nestes meus pensamentos reparei que a paisagem começara a mudar. Os vales estavam a ficar mais aplanados. As margens do rio eram maiores. O calor sufocava ainda mais. Mirandela já se avistava no horizonte, terra no coração de Trás-os-Montes famosa pela sua gastronomia.
Ao sair da automotora tive logo um primeiro choque. Impressionou-me o estado degradado do bonito edifício da estação. Outrora sítio tão importante para a cidade, marginalizado agora pelo abandono dos comboios. Aqui é hoje o terminus da linha do Tua. Antes esta continuava até Bragança. Cidade do meu destino nesse dia…
continua
4 comentários:
Ke Dizer??? Viagem Histórica; que ficará para sempre na minha memória.
O povo transmontano é, com o devido respeito ás gentes do POrto(onde nós nos incluímos), o mais fantástico de Portugal.A amabilidade eo Prazer pela vida dakelas gentes...sem palavras..
Next Stop: Alentejo :P
Ke Dizer??? Viagem Histórica; que ficará para sempre na minha memória.
O povo transmontano é, com o devido respeito ás gentes do POrto(onde nós nos incluímos), o mais fantástico de Portugal.A amabilidade eo Prazer pela vida dakelas gentes...sem palavras..
Next Stop: Alentejo :P
e MAIS!!! AS TRANSMONTANAS SÃO ROLIÇAS E BOAXXXZE..
será a tua proxima paragem Pocinho --» Foz Côa? Esperemos que sim ;)
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