segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Povo que morres na estrada

A guerra mais trágica da nossa história recente continua a fazer todos os dias mais vítimas - a guerra nas estradas. À hora a que estas linhas escrevo, está-se a fazer o rescaldo e a contabilização das vítimas de mais um acidente trágico: treze idosos mortos e mais de duas dezenas de feridos na A23.

Porque nos matamos nas estradas? Que gene assassino nos corrompe o sangue e nos faz ser um povo de bárbaros quando nos agarramos a um volante? A explicação sem dúvida que é complexa. Mas julgo que parte da sua resposta reside em algo que, por mais governos que se sucedam, por mais leis e mudanças que surjam, há de continuar sempre a vitimar-nos: a falta de civismo.

A falta de civismo não é apenas fruto da nossa educação. De facto, quantos homens de bem, quantos homens importantes da nossa sociedade não conduzem mal? Recordo-me do caso de um deputado que foi apanhado em mais de uma centena de contra-ordenações. E que não cumpriu nenhuma devido à sua imunidade parlamentar. Mas mais exemplos podiam ser dados. Professores que se agarram na estrada ao volante como loucos, fazendo das auto-estradas autênticas pistas de corrida. "Meninos" da alta sociedade de Lisboa que nas madrugadas de fim-de-semana se divertem na Ponte Vasco da Gama com carros tunning.

A sociedade portuguesa vive de aparências. Ter carta é uma obrigação social imposta pelos amigos, pelos parentes. Não interessa se se sabe conduzir. Interessa, para as pessoas, ter na carteira o "precioso" documento que comprova que podem conduzir um veículo. Mal se perfaz dezoito anos, a idade mínima legal para conduzir, os adolescentes exigem imediatamente a carta aos pais. Os amigos perguntam logo quando se tira a carta. E tudo acaba, quantas vezes, com um cheque dado por debaixo do tablier ao corrupto engenheiro, com quarta classe mal tirada, que corruptamente passa mais um futuro assassino da estrada quando faz o exame de condução.

Um carro é uma arma. Ele pode destruir vidas. Nunca criar. A responsabilidade de ter um carro e conduzir é enorme. E o respeito pelos peões também o deveria ser. No entanto, quantas vezes um peão é obrigado a esperar longos minutos junto a uma passadeira até que um condutor civilizado lhe dê a obrigatória passagem...

Tudo isto seria digno de uma comédia, se não matasse todos os dias pessoas numa guerra imensa que já fez mais vítimas que o conflito em África que decorreu de 1961 a 1974. Até 4 de Junho, neste ano de 2007, 209 pessoas perderam a vida nas estradas. Estamos em novembro e o número certamente aumentou. Há poucas horas, mais treze vítimas foram adicionadas a essa contagem. Se estamos em guerra nas estradas, para quando se declara a Lei Marcial?

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